sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

PÓ DE GIZ, o dia a dia da sala de aula!

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Criei um espaço nesse blog para dialogor com meus alunos. PÓ DE GIZ. Estou procurando ser disciplinado e escrever sempre os resumos de minhas aulas e hospedá-los lá. São tópicos feitos com o pó do giz, o dia a dia da sala de aula.
Já coloquei uma apresentação acerca do nascimento da filosofia e a transição entre cosmogonia (a construção simbólica, mítica, da realidade) para a cosmologia (a aventura filosófica dos pré-socráticos em busca do "logos", da racionalidade, do ser, da physis).
Postei também uma aula que ministrei hoje. É sobre os sofistas, filósofos gregos, exímios oradores, professeres itinerantes, primeiros pedagogos. Foram combatidos por Sócrates e Platão, mas que exerceram fundamental papel para a educação filosófica e política dos jovens à época dos grandes debates sobre democracia.
Vocês também podem encontrar um texto apresentando o sociólogo Émile Durkheim e o seu método sociológico (não é um texto meu).
Além de tudo isso, está postado também o clip Evolution, da banda Pearl Jam.
O diálogo está aberto. Boa noite!

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

No ano de 2007, a pedido do meu amigo Lúcio Packter organizei esse artigo para ser publicado numa revista filosófica. Não sei se chegou a ser publicado. Dou publicidade a ele nesse blog. Está no ar para todos quantos se interessarem pelo tema. Ao final do artigo faço um comentário levando em conta os estudos da filosofia clínica. Boa leitura!
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Amizade, justiça e verdade

* Railton Souza



A convivência social parece, realmente, não ser tão fácil. Quantas vezes o outro é inconveniente, não respeita os limites existenciais e nem mesmo os físicos que nos separaram. Quantas vezes ele é injusto, nos lesando e nos causando danos. No calor da irritação, a idéia do outro como o inferno, parece fazer sentido. O outro como um intruso que nos quer limitar e controlar. Nesses tempos de intolerância e desrespeito às alteridades, o diálogo está dando lugar, cada vez mais, à guerra. A qualquer hora e por qualquer motivo, estamos prontos para o conflito. Restringimos nosso contato em nível das relações de troca de prazeres e de utilidade. A amizade seria ainda um ideal a ser perseguido nesses tempos tão áridos e sequiosos?

O que seria amizade? Como relacioná-la com a justiça e a equidade? O fundador da primeira Academia¹, em tempos idos, já refutava a idéia de justiça, resumido na prática de fazer bem aos amigos e prejudicar os inimigos. A prática política de nosso país, ao que me parece, está fundada nesse mesmo princípio por ele combatido: Aos meus amigos, parentes e consortes tudo, aos outros, os estranhos, a lei e a danação. Platão também não aceitou que a justiça fosse resumida apenas no interesse do mais forte. Refutou também os argumentos daqueles que louvavam a prosperidade e a boa vida dos injustos e que maldiziam os infortúnios pelos quais passava o homem justo. O estagirita² afirmou que a mais genuína forma de justiça é uma espécie de amizade.

Tempos depois, outro que para muitos foi maior que esses, nos fez pensar que não há mérito algum em amar os que nos amam. Grande seria aquele que conseguisse fazer bem aos que o odeiam. Meritoso seria o que amasse os próprios inimigos - ideal, a olhos vistos, distante da história e da realidade humana. Sabemos que a sociedade capitalista funciona como panóptico da vigilância e da punição, com todos os seus mecanismos de disciplina, de controle e de exploração do homem pelo homem, inerentes ao compulsório e coercitivo processo de socialização. Pode ela fundar suas relações numa tal amizade?

Compreendendo a infinita multiplicidade das historicidades humanas, constatação que me faz respeitar aqueles que se estruturam como ilhas, entendo a amizade (phylia) como elemento de imprescindível importância para a autêntica reciprocidade inerente ao convívio social, para o qual o homem está predisposto, ao que me parece, a partir de sua natural politicidade. A amizade deveria constituir-se na realização daqueles contatos humanos que nos unem a todos enquanto membros de um corpo social que se quer saudável.

Com a maior parte das pessoas, é verdade para mim, estabelecemos relações assemelhadas à amizade. Relações que se fundamentam na utilidade recíproca que uma pessoa representa para a outra pessoa ou no prazer que uma é capaz de dar a outra. É preciso dizer que tanto a primeira quanto a segunda não correspondem ao conceito de amizade que pretendo dele me aproximar. São a ele apenas comparadas.

As relações, denominadas amizade, que estabelecemos na esfera mais privada com uma meia dúzia de pessoas, com as quais procuramos ser os mais justos e cuidadosos não poderiam representar, nessa perspectiva, uma tão excelente forma de relação – como entendemos a phylia - quando, com as demais pessoas, os estranhos, somos desonestos, maus e injustos. Aqueles que detêm poder devem entender que a amizade, não pode jamais se restringir ao grupinho de consortes seus. Sua arte deveria, acima de qualquer outra, expressar a essência da sociabilidade e politicidade numa espécie de amizade universal.

Seria possível pensar uma phylia universal intrínseca ao ser humano? Pressupondo que um amigo não lesaria o outro, e, que não praticaria contra ele uma injustiça; afirmo ser a amizade, tal como pensou Aristóteles, uma espécie de justiça que se manifesta na relação entre pessoas virtuosas. Mesmo na ausência de contratos ou de leis escritas, a relação de amizade deveria ser regulada pela equidade, o respeito ao direito natural. Um amigo seria aquele que, em algum momento, até mesmo de forma deliberada, poderia vir a prejudicar-se para evitar o prejuízo do outro com quem mantém a relação amistosa. A amizade, assim, constituir-se-ía na mais desinteressada, excelente e perfeita manifestação das relações humanas que se possa imaginar e almejar. Estaria além da mera utilidade. Seria, de fato, a mais completa e duradoura daquelas que conhecemos.

Muitos podem afirmar ser a idéia de uma phylia universal nada mais que utopia. E quem disse que não precisamos de utopia? Quem disse que não devemos nos imbuir dos mais excelentes e grandiosos objetivos? Quem disse que não devemos lutar contra a mediocridade que nos ronda e carcome ad sepulcro?

Comentário: O texto “Amizade, justiça e verdade” traz de forma evidente a determinância de tópicos da Estrutura de Pensamento tais como: pré-juízos, termos agendados no intelecto, como o mundo me parece, inversão e recíproca de inversão, princípios de verdade, interseções e busca. Fica evidente que o filósofo não é, nem de longe, detentor de verdades universais. O que faz quando escreve nada mais é que demonstrar como fenomenologicamente percebe e pensa subjetivamente o mundo. Suas pretensas verdades gerais nada mais são que verdades construídas a partir da sua história, enquanto ente localizado no tempo, no espaço, circunstanciado e em relação.

Notas

1. Por volta do ano 387 a.C ao retornar a Atenas de uma viagem, Platão edificou sua própria escola filosófica, a Academia, nos jardins de seu amigo Academus.
2. Aristóteles nasceu em 384 a.C em Estagira, cidade localizada na Macedônia. Ficou conhecido, por isso, como o estagirita.


BIBLIOGRAFIA

MORRIS, Clarence (org.) Os grandes filósofos do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1999 (Coleção Os pensadores).
ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Nova Cultural, 1999 (Coleção Os pensadores).
BITTAR, Eduardo C. B - ALMEIDA, Guilherme Assis. Curso de filosofia do direito. São Paulo: Atlas, 2002.
PLATÃO. A República. São Paulo: Nova Cultural, 1999(Coleção Os pensadores). FILOSOFIA CLÍNICA?Exames categoriais e estrutura de pensamento.


* Railton Souza é... Vide perfil

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Hóspede no mundo!

Durante o ano de 2001, depois de participar de uma das aulas do curso de pós graduação sobre ensino de filosofia, na Universidade de Brasília, joguei estas palavras, à esmo, num guardanapo, enquanto tomava um lanche e refletia sobre minha condição existencial no mundo.

HÓSPEDE

Hóspede em casa.
Hóspede no mundo.
Mundo, estranho mundo.
Mundo.
Hóspede sozinho.
Não, não vou ficar.
Peregrino é o que sou.
Todos dizem fique.
Aqui é teu lugar.
Por que rodar mundo?
Faça uma tenda.
Fixe seu corpo e sua mente.
Mas minha alma é meu corpo.
Fixar jamais.
Como seguir?
Para onde rumar?
Morador, tu és hóspede também.
Não sabes que és?
Saiba agora.
Hóspede és tu!
Mas para onde rumar?
O mundo?
Estranho mundo?
Estranhos humanos.
Hóspedes também.
Procuro.
Hóspede e viajante?
Sou eu.
Mas para onde rumar?
Isso anseio saber.
Procurando o rumo, caminho.
Caminho e caminho e caminho.
É, talvez o rumo esteja mesmo meio do caminho!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Urgente! S.O.S Filosofia!

Por uma educação filosófica

Railton Souza
Mesmo depois de mais de uma década de discussão sobre ensino de filosofia, a realidade atual não é muito animadora. Quais os motivos que nos levam a tal constatação? Quais avanços políticos obtivemos? Como é prevista a formação de professores nos currículos de licenciatura nas universidades de Goiás? Foi produzido um currículo na Secretaria Estadual de Educação para a disciplina filosofia a fim de orientar o trabalho nas escolas de ensino médio? Quem está lecionando filosofia nas escolas – principalmente na pública – e sob quais condições? Que contribuições concretas os professores das graduações em filosofia estão oferecendo para consolidar mercado de trabalho para essas centenas de licenciados que concluíram sua licenciatura nos últimos anos? E a filosofia nos vestibulares por que ainda não se consolidou?

É bem verdade que no final do ano de 1998, com base na LDB 93/94, foi aprovada na Assembléia Estadual de Goiás uma lei que garantiu a obrigatoriedade disciplina filosofia nos currículos de ensino médio e da ética no ensino fundamental. Nesses últimos seis anos a disciplina foi implantada nas escolas de forma caótica. Professores de outras áreas passaram a utilizar as aulas de filosofia como complementação da carga horária mínima necessária para contratação. Ainda hoje, mesmo depois de promessas de concursos, são poucos os professores licenciados em filosofia que ocupam vagas no ensino médio público. É mais que urgente – por parte dos departamentos de filosofia e educação – a realização de uma pesquisa para constatar a realidade dos campos onde, supostamente, os acadêmicos farão seus estágios.

Que bom que o parecer 38/2006 ( http://www.abrelivros.org.br/abrelivros/texto.asp?id=1781 ) tornou definitivamente obrigatórias as disciplinas filosofia e sociologia em todas as escolas brasileiras. Mas o que as Secretarias de Educação, as universidades e professores estão de fato fazendo, para tornar efetivo esse parecer?

Além do mais, essas escolas ainda não são orientadas por um currículo adequado. Oferecem ao professor de filosofia apenas uma aula semanal, o que torna inviável um trabalho mais profundo.

O que nos parece é que o ensino de filosofia nas escolas de Goiás – salvo algumas exceções – ainda corre o risco de ser julgado como uma farsa. Precisamos dizer isso aos estudantes que estão sendo formados pelas universidades.

O problema do ensino de filosofia deve ser pensado desde a formação do professor nos cursos de graduação. Os currículos de licenciatura em filosofia deveriam ser concebidos de tal maneira que o problema do ensino estivesse presente no todo curricular nas especificidades das disciplinas. Não é mais aceitável depositar a responsabilidade da formação específica da licenciatura em três ou quatro disciplinas didático-pedagógicas. Os professores das graduações e do ensino médio não deveriam se furtar das discussões e embates acerca das questões políticas e mercadológicas; daquelas sobre a organização de instituições representativas de classe e demais problemas que circundam o ensino de filosofia em Goiás.

Um obstáculo que ainda impede o avanço dessa discussão é um preconceito que subsiste entre os acadêmicos. Aquele que vê a docência como o refúgio daqueles que não seguiram a vida de pesquisadores – por inaptidão. No final das contas, para o prejuízo geral, caímos no cotidiano cumprimento de tabelas. Uns fingem que formam professores, outros que ensinam filosofia nas escolas e outros que aprendem.

A Secretaria de Estado da Educação está, com dificuldades, criando um currículo para as disciplinas filosofia e sociologia presentes no ensino médio. Só um bom currículo e bons profissionais superariam, nas escolas, a lógica do “faça do jeito que der para ver como é que fica.”
Nas escolas privadas a realidade é aquela que todos sabemos, a mercantilização e preparação para os exames de ingresso na universidade. Nelas os professores se encontram em condições de sujeição, num espaço-limite de poder, controlados pelas regras do mercado. A escola atual é um lugar cuja a trama de poderes caracteriza bem o que Deleuze denominou sociedade de controle.

Os departamentos das universidades e a Secretaria de Estado da educação continuam desenvolvendo seus trabalhos nessa rotineira cotidianidade. Todavia, as condições concretas do ensino de filosofia em Goiás não mudaram significativamente.

Além de sermos guardiões da ortodoxia filosófica européia por meio da arte de interpretar com exatidão e genialidade o pensamento alheio, devemos nos debruçar sobre essas questões haja vista que a filosofia no ensino médio é um canal aberto para a educação filosófica de um país inteiro, de gerações. Para fazer isso é necessário superar essa tendência brasileira em reduzir a atividade filosófica a uma estéril perspectiva de um suposto pensar pelo pensar – autarquia – que na verdade esconde uma covardia e um medo de mostrar a cara para o mundo e de assumir posições próprias.

O mundo atual precisa de filósofos. O que aconteceu por aqui foi a transposição do meio para o fim. O processo-meio tornou-se a finalidade. A pesquisa e a interpretação ortodoxa dos clássicos – que formaria livres pensadores - foi engessada enquanto processo, formando não-pensadores. Os especialistas ao final de sua formação têm imensas dificuldades de discutir e dialogar até mesmo com outros especialistas - quem dirá com as pessoas em geral de outras áreas. A saber, é raríssimo ver filósofos brasileiros se posicionando politicamente, dando entrevistas sobre questões contemporâneas, científicas, bioéticas, econômicas e ou de qualquer outra ordem. O processo tomado como fim fossilizou a cabeça de muitos, constituindo-se como um verdadeiro obstáculo epistemológico.

Por conseguinte, é importante saber que os próprios filósofos europeus – especialistas e professores – estão voltados para as questões contemporâneas sejam elas políticas, econômicas, biotecnológicas ou ambientais. O que fazemos nós aqui na colônia? Interpretamos com genialidade o que os antepassados deles pensaram outrora. Pensamentos que nem a eles é tão interessante mais.

Devemos ter muito cuidado com o processo da formação filosófica pois nele a inventividade e a capacidade de criação podem ser fatalmente liquidadas. Na busca de formar filósofos por meio de uma rigorosa metodologia, corremos o risco de formar repetidores ineptos, incapazes de pensar por si mesmos.

Aqui em Goiás onde estão os nossos gênios? Trancafiados na academia? É preciso abrir as portas e as janelas do mundo acadêmico, sair um pouco da caverna para ver a luz do sol e conversar com as pessoas nas praças a fim de saber como anda o mundo e a vida, saber o que aflige e angustia o homem atual. Durante essa semana, topamos o desafio de conversar com os reeducandos do presídio POG, antiga Cepaigo. Nos deparamos com homens e mulheres ávidos de saber e abertos a pensar o mundo e a própria vida. Como eles, imaginem, quantos quereriam ter o privilégio de conversar com essa já tão extinta espécie da “fauna humana” : o filósofo.

Essa menoridade na qual nos metemos é irritante: Se o filósofo sobre o qual sou especialista não pensou isso, também não posso opinar. O sonho de muitos desses colegas era ter a possibilidade de contatar os mortos para que eles pensassem o mundo atual no lugar deles. E suas cabeças foram feitas para quê?

Somos filhos de outro tempo, imersos noutro contexto com desafios fabulosos nas áreas políticas, tecnológicas, religiosas e sobre tudo no diz respeito à subsistência da vida e da espécie humana, nunca antes tão ameaçada por problemas ambientais e pela desigualdade social.
O que nos preocupa é essa insistente continuidade de uma cultura da repetição filosófica que dá mérito de pensador a quem não merece mérito algum por não saber pensar ou por ser covarde. Como dizia Voltaire na sua obra Cândido, os filósofos tremem de medo. Estamos viciados na repetição mental de conceitos da tradição, mas não sabemos relacionar numa operação simples, esses conceitos com quase nada. O mundo estreito dos filósofos lhes dá a sensação de estarem na vastidão do ilimitado.

Precisamos levar a filosofia ao homem comum. Um caminho possível para tanto seria a escola. Consolidar uma educação filosófica que gerasse movimentos que extrapolassem com o tempo a universidade e a própria escola, que devolvesse a filosofia às praças e ao coração humano. Não vamos nos reduzir a cabeças deslocadas do tempo/espaço e portadoras de teorias frias, descontextualizadas e essencialistas. Devolvamos a filosofia à infância criadora, contestadora e genial. Se não fizermos nada, continuaremos como neo-coloniais filósofos – meritosos mestres - esperando novidades atrasadas dos mestres da metrópole, ao passo que esses mesmos já estarão envoltos em outras novidades.
Se não levarmos a sério a Educação Básica e nela as disciplinas filosofia e sociologia, principalmente no ensino médio, o Estado de Goiás matará de inanição as já deficitárias licenciaturas em filosofia. Corremos, assim, o risco de sermos extintos semelhantemente aos dinossauros.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A BLOGOSFERA OU SITIOSFERA E O NOVO MUNDO

Segundo Descartes, no Discurso do Método, o espírito humano tende a aceitar sem crítica tudo o que lhe apresentado, sem mesmo fazer um exame adequado. Tende também a emitir juízos precipitados antes mesmo de verificar se são verdadeiros ou não. Por isso o filósofo francês apresenta um método a fim de bem conduzir esse espírito humano rumo à verdade.
Pois bem, observo que quando nos deixamos levar pelo bombardeio de informações da grande mídia e das inúmeras fontes presentes no nosso corrido dia a dia, incorremos nesses casos para os quais alerta o racionalista: a prevenção e a precipitação.
Penso que configurou-se hoje uma "blogosfera ou sitiosfera", um ciberespaço. Estamos em franco processo de revolução. A mídia televisiva e a impressa são uma espécie de dinossauros que convivem com o homo sapiens recém aparecido. Esse modelo de escola que confina, reduzindo a aprendizagem ao exclusivo e frenético bombardeio humano e vocalmente limitado de informações, presa também à velha apostila ou ao livro (papel) didático, está em franca crise. Algo novo surge. Quando todos os alunos tiverem em mãos computadores ( isso já está aí muito próximo) não será mais necessário espaço físico determinado, horários convencionais. Tudo muda. O que não muda é a relação entre o capital e o trabalho. Haverá novas formas de exploração da força de trabalho no ciberespaço uma vez que aí reside a fonte da riqueza das nações.
O caminho então é a autonomia, a criação, a produção intelectual. Pessoas esclarecidas e por conseguinte livres. Conduzir bem nosso espírito parece mesmo ser um caminho básico para a realização do trabalho criativo e não alienado.
Convido a todos vocês que criemos uma grande rede de sites, blogs, páginas na web. Uma revolução de idéias, uma rede sinceramente fraterna, mas do dissenso e não somente do consenso. Um rede que desvele a verdade que esteja em acordo com a justiça e que torne o mundo um lugar melhor para todos e não somente para alguns egoístas. Um espaço para denunciar o engodo, a dissimulação dos jogos de poder, dos jogos de linguagem, das tramas midiáticas, políticas, educacionais e pseudoreligiosas.
Tendo em vista isso, não necessitamos que jornalistas, políticos, clérigos ou quem quer que seja façam o papel de nosso cérebro. Aceitamos sim, sinceramente, dialogar com todos eles.
É hora de avançar, mudar o mundo. É o que nos resta nesta tão breve passagem pela existência imanente.
Railton Nascimento Souza

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Amigos, qual a opinião de vocês sobre a posição do filósofo italianao Thiago Scarelli acerca do caso Battisti?
Railton
Itália insulta o Brasil no caso Battisti, diz filósofo italiano Toni Negri

Fonte: Thiago Scarelli do UOL Notícias

Você acha que a Itália insultao Brasil no caso Battisti?
A Itália adota uma postura "insultante" com o Brasil no conflito em torno do ex-ativista Cesare Battisti, porque não se trata de um país desenvolvido, e mente quando diz que vivia um Estado de Direito nos anos 70. A análise é do filósofo italiano Antonio Negri, que passou mais de dez anos preso por seu envolvimento com a militância de esquerda na Itália. Negri é co-autor, com Michael Hardt, do livro "Império", publicado no Brasil em 2001 e umas das obras mais importantes e polêmicas sobre o processo de globalização. Com Giuseppe Cocco, publicou "Global - Biopoder e Luta em uma América Latina Globalizada", em 2005.Leia abaixo a entrevista completa, concedida por Negri via telefone desde Veneza.

Quem é Toni Negri

Antonio Negri, 75, é um filósofo italiano, professor da Universidade de Pádua (Itália) e do Colégio Internacional de Paris (França). Entre os anos 50 e 70, participou dos movimentos de esquerda na Itália, condenando tanto a direita quanto o stalinismo. Esteve preso entre 1979 e 1983, depois se exilou na França por 14 anos. Condenado por subversão, o filósofo voltou para a Itália em 1997 e cumpriu pena até 2003. Atualmente, divide seu tempo entre Veneza e Paris, cidades onde desenvolve atividades acadêmicas
UOL - Como o senhor vê a posição da Itália no caso Battisti?Antonio
Negri - A posição italiana é uma posição muito complexa. Como se sabe, o governo italiano é um governo de direita e é um governo que, depois de 30 anos, retomou a perseguição das pessoas que se refugiaram no exterior depois do final dos anos 70, depois do final dos anos nos quais na Itália houve um forte movimento de transformação, de rebelião. E, portanto, o governo italiano retoma hoje uma campanha pela recuperação destas pessoas. Em particular, tentou fazê-lo com a França, para conseguir a extradição de Marina Petrella [condenada por subversão pela justiça italiana] e não conseguiu porque o governo francês, a presidência francesa [Nicolas Sarkozy], impediu. Neste ponto, aparece em um momento exemplar o caso Battisti.
UOL - O que o senhor quer dizer com perseguição? É perigoso neste momento para Battisti retornar à Itália?Negri - Eu não sei se é perigoso. Mas é certo que ele foi condenado à prisão perpétua e seria para ele uma situação muito grave.UOL - Um dos motivos que o Brasil cita para manter o refúgio político é a ameaça de perseguição política contra Battisti...Negri - Mas seguramente ele seria alvo de uma perseguição política e midiática.
UOL - Trata-se, portanto, de um temor com fundamento?Negri - Veja bem, o governo italiano, depois de 30 anos, quer recuperar, para fazer um exemplo, as pessoas que se refugiaram no exterior. E que se refugiaram no exterior porque na Itália havia uma condição de Justiça que era impossível de aguentar.

UOL -Premiê italiano, Silvio Berlusconi, afirmou que seu governo fará tudo o que for possível para conseguir a extradição de Cesare Battisti - O que significa esse "exemplo"? A punição de Battisti resolveria a questão da violência na Itália nos anos 70?
Negri - Precisamente. Resolveria em dois sentidos: por um lado, se recupera aquilo que eles chamam 'um assassino'; e por outro se esquece aquele que foi um Estado de Exceção, que permitiu a detenção e a prisão preventiva de milhares de pessoas durante estes anos. É necessário recordar que nos anos 70 o limite jurídico da prisão preventiva era fixado em 12 anos. É necessário recordar o uso da tortura e de processos sumários inteiramente construídos sob a palavra de presos aos quais era prometida a liberdade em troca de confissões. Este foi o clima dos anos 70. E não nos esqueçamos que nos anos 70 houve 36 mil detenções, seis mil pessoas foram condenadas e milhares se refugiaram no exterior. E se há quem duvide desses números, e que quer continuar duvidando, basta que deem uma olhada nos relatórios da Anistia Internacional naqueles anos. Portanto, essa é uma questão muito séria. O caso Battisti é, na verdade, um pobre exemplo de uma estrutura, de um sistema no qual a perseguição, insisto na palavra 'perseguição', era acompanhada por enormes escândalos na estrutura política e militar italiana. Houve uma construção, principalmente por meio de uma loja maçônica chamada P2, de uma série de atentados dos quais ainda hoje ninguém sabe quem foram os autores, atentados que deixaram milhares de mortos, por parte da direita. E o governo italiano nunca pediu, por exemplo, que o único condenado por estes atentados seja extraditado do Japão, onde se refugiou. Existe uma desigualdade nas relações que o governo italiano mantém com todos os outros condenados e refugiados de direitas que é maluca. O governo italiano é um governo quase fascista.
UOL - Se houvesse um governo de esquerda na Itália o caso seria o mesmo? [O líder da oposição de centro-esquerda] Romano Prodi faria o mesmo?
Negri - Eu não acredito que Prodi faria o mesmo, mas parte da esquerda faria o mesmo, isso é verdade.
UOL - Como o senhor vê hoje o PAC [Proletários Armados pelo Comunismo, grupo do qual Battisti fazia parte]?
Negri - O PAC era um grupo muito marginal, mas isso não significa que não estivesse dentro do grande movimento pela autonomia. Mas ouça, o problema é esse: eu acho que as coisas das quais foi acusado Battisti são coisas muito graves, mas - e isso me parece importante dizer - estas são responsabilidades compartilhadas por toda a esquerda verdadeira. Não se trata de um caso específico. O Supremo Tribunal Federal do Brasil construiu uma jurisprudência pela qual foram acolhidos outros italianos nas mesmas condições que Battisti.
UOL - E como a Itália deve solucionar esta dívida com o passado?
Negri - Isso deveria ser feito por uma anistia, mas o governo italiano nunca quis caminhar por este terreno. Talvez tudo isso tenha determinado tremendas conseqüências no sistema político italiano, porque foi retirada da história da Itália uma geração ou duas, que poderiam ter conseguido determinar uma retomada política. É uma situação muito dramática. E gostaria de acrescentar uma coisa: o a postura da Itália no confronto com o Brasil a respeito deste tema é uma postura muito insultante. Presidente da França, Nicolas Sarkozy, negou em outubro de 2008 a extradição da italiana Marina Petrella, alegando razão humanitária em função da frágil saúde da italiana
UOL - Por quê?
Negri - Trata-se de uma pressão feita sobre o Brasil, enquanto um país fraco, depois que os franceses não extraditaram à Itália Marina Petrella. Psicologicamente, trata-se de uma operação política e midiática muito pesada contra o Brasil, na tentativa de restituir a dignidade da Itália, no âmbito da busca de restituir os exilados.
UOL - O senhor acha que as autoridades italianas se sentem especialmente ofendidas pelo fato de a decisão em favor de Battisti vir de um país em desenvolvimento, antiga colônia de um país europeu?
Negri - Seguramente, porque se trata de pobres que reagem contra os ricos, contra os capitalistas.
UOL - O senhor também esteve preso?
Negri - Eu fui detido em 1979 e fiquei na cadeia até 1983, em prisão preventiva, sem processo. Em 1983, houve um eleição parlamentar e eu saí da cadeia porque fui eleito deputado, porque não era ainda condenado. Fiquei preso quatro anos e meio - e poderia ter ficado até 12. Ou seja, quando os italianos dizem que nos anos 70 foi mantido o Estado de Direito, eles mentem. E isso eu digo com absoluta precisão, com base no meu próprio exemplo: fiquei quatro anos e meio em uma prisão de alta segurança, prisão especial, fui massacrado e torturado. Pude deixar a prisão apenas porque fui eleito deputado - do contrário, eu poderia ter ficado na prisão por 12 anos, sem processo. Durante os anos que fiquei na França, exilado, eu fui processado e condenado a 17 anos de prisão, mas que foram reduzidos porque havia uma pressão pública forte em meu favor. Quando voltei para a Itália, fiquei outros seis anos presos e encerrei a questão.Aldo Moro, líder da Democracia Cristã e premiê por cinco vezes, foi sequestrado e morto pelas Brigadas Vermelhas em 1978
UOL - Quais eram as acusações?
Negri - Associação criminosa, gerenciamento de manifestações que eram violentas nos anos 70, em Milão, em Roma, em toda Itália. Mas a primeira acusação que sofri não era de agitador político, por escrever jornais etc., mas de chefiar as Brigadas Vermelhas, o que não é verdadeiro, e de ter assassinado [Aldo] Moro, acusações das quais fui absolvido depois. Entende? Na Itália se busca desesperadamente fazer valer uma mitologia dos anos 70, que é falsa. E a direita no poder hoje busca a qualquer custo restaurar um clima de falsidade e de intimidação para não permitir que a história seja contada como foi.
UOL - Existem aí semelhanças com o governo militar no Brasil?
Negri - Isso eu não sei, porque acho que os governos militares na América Latina foram particularmente violentos. Mas o problema é outro: a questão é que a liberdade, o Estado de Direito e as regras da democracia não podem ser infringidos ou falsificados em nenhuma situação.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Nova "ágora", ou praça de debates, no ciberespaço! Venham participar!!!

Amigos, acabei de criar essa "ágora" (praça) para encontrá-los. Quero que seja um espaço de discussão, de postagem de textos interessantes, sugestões de filmes, cursos, contato com alunos e colegas. Enfim, um espaço de produção cultural e de amizade.