terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

A DOR MAIOR E A ESPERANÇA

(Reflexão na convalescença) A dor insuportável do trauma que quebra seus ossos, massacra sua carne, e que lhe faz perder a razão, Não é maior do que a dor da indiferença, vinda das mãos frias que cuidam de tantos por aí como peça, corpo sem alma, sequestrado pelo hospital. A dor silente provocada pelo bisturi que corta seu corpo anestesiado, Não é pior do que a dor de muitos irmãos seus que morrem, todos os dias, a gemer em suplício nas portas e filas de hospitais, sem atendimento e tratamento adequados. A dor de tentar fazer o corpo cortado, e costurado, andar de novo num difícil processo de convalescença, Não é maior do que a dor do idoso abandonado no final da vida, doente e humilhado, a depender e a esperar, em vão, a mão de alguém que dele cuide, mas que jamais virá. A dor dos esforços, da persistência e determinação do corpo que alija a "resiliência" ao escolher a "resistência", em vista de superar o trauma que lhe fez verter lágrimas, Não é maior do que a dor de quem perdeu as forças e a esperança, feito o corpo de soldado a sucumbir no chão frio do campo de batalha, ao ser alvejado e ferido pelo golpe fatal, para nunca mais se levantar. A mão amiga, ali na hora mais crítica quando você está tombado e com muita dor, vinda de onde você nem espera, é um bálsamo que lhe renova a esperança na humanidade. Quiçá todo ser humano pudesse ser atendido por profissionais de saúde qualificados, acolhido, tratado com amor e dignidade, quando seu corpo e alma padecem a sofrer. * (Autoria própria) *Obra de arte: Henri Matisse.