terça-feira, 22 de outubro de 2013

O leilão do campo de Libra

Publicado em 21/10/2013

Leilão derrotou os
black blocks do mercado!

Vitória política de mestre. Econômica, poderia ser uns centímetros a mais


Saiu no blog Tijolaço:

Libra: vitória política completa. Econômica, um pouco menos que o possível



Politicamente, a vitória obtida pelo Brasil no leilão não poderia ter sido maior.

A presença minoritária da Shell no consórcio da Petrobras jogou por terra todo o blá-blá-blá de que as regras eram inviáveis, que as empresas comerciais temiam a ingerência do governo, que a partilha era um modelo fadado ao fracasso.

A outra empresa privada, a Total, é muito ligada ao governo francês, que tem participação acionária e já se esperava que pudesse entrar no consórcio por razões estratégicas de abastecimento. Mas não a Shell.

Deixou de queixo caído todos os “mercadistas” que não entenderam que as americanas e inglesas caíram fora por conta da espionagem e a “dupla cidadania” da Shell – também holandesa – a deixou menos exposta ao escândalo.

Nem a Miriam Leitão tem o que falar sobre isso, agora.

Do ponto de vista do resultado econômico do leilão, todos viram que o representante do consóricio esperou até os últimos segundos para entregar aquele envelope.

Claro, porque havia outro, com um lance maior, para o  caso de haver outros na disputa.

Se não há, vai a proposta mínima, até porque a Petrobras não tem como forçar seu aumento se não há licitantes a vencer.

Poderíamos ter alcançado os 80% de participação estatal, mas acabamos ficando, como mostrou o post anterior, em 75,73%.

Duas razões nos impediram,

A primeira, o alto bônus de assinatura, que criou dificuldades de desembolso imediato para a Petrobras. E isso, com todo apoio que este blog deu ao leilão, jamais deixou de ser objeto de crítica, sobretuso porque derivou das necessidades imediatas de caixa do Governo para alcançar a meta de superávit primário, aquele do maldito tripé que a direita e, agora, Marina Silva, endeusam.

A segunda, a pressão política.

Não a das poucas dezenas de manifestantes  ali fora do leilão que, tirando meia-dúzia de provocadores black blocs – são gente nacionalista.

A pressão vem de outros black blocs, os mascarados do mercado, que vêm vandalizando as ações da Petrobras faz tempo, sob a música de desastre que a mídia incessantemente toca para a empresa com mais reservas novas a explorar neste momento no mundo.

Nada isso, entretanto, diminui meu otimismo com a exploração de Libra. Até porque, fora da parcela de lucro embolsada pela União, pela Petrobras e pelas outras empresas do consórcio, existe uma parcela imensa, de algo perto de US$ 300 bilhões, que vai ser apropriada pelo país na forma de salários, compras de insumos e de encomendas com o máximo possível de conteúdo nacional, como é tradição da Petrobras, e que, por isso, vai irrigar nossa economia com impostos e salários.

Nem falo, também, no horizonte de cooperação que ela abre com a China, que lentamente vai assumindo o seu papel de parceiro estratégico do nosso país.

O Brasil está de parabéns. Provamos que é possível juntar a defesa dos interesses nacionais, o controle de nossas matérias primas estratégicas, a eficiência tecnológica e operacional com a necessária captação de recursos para o desenvolvimento de nossa indústria petroleira.

O petróleo teve três fases neste país.

A primeira, a de acreditar que ele existia e encontrá-lo.

A segunda, a de sermos capazes tecnologicamente de extraí-lo, nas difíceis condições onde ele surgiu.

A terceira, agora, a de sermos capazes de mobilizar, sem perder a soberania sobre ele, os recursos necessários a realizar essa imensa riqueza potencial.

Demos um passo gigantesco e seria tolice deixar de reconhecê-lo por acharmos que se poderia ir alguns centímetros além.

E, depois dos retrocessos que a década neoliberal nos obrigou, estamos mais longe do que qualquer um de nós poderia pensar naqueles anos amargos.

Esta caminhada jamais foi fácil, jamais foi simples.

Mas não há de parar nunca.

Por: Fernando Brito

domingo, 20 de outubro de 2013

O que comemorar no dia do professor?

                                                           * Railton Nascimento Souza

    O que comemorar hoje, no dia do professor? O filósofo francês Gilles Deleuze já nos avisou há muitos anos que a lógica da empresa passou a dominar todas as antigas instituições disciplinares (igreja, escola, família...) antes assim compreendidas por Foucault como lugares de confinamento, vigilância e punição, onde o indivíduo aprendia a ser "sujeito", sujeito às verdades sociais. O que observamos no dia a dia das instituições de ensino privadas, mas até mesmo nas públicas, é essa lógica agressiva da empresa capitalista.
    A escola é uma máquina contínua de produção de provas em sistema ininterrupto... que não pode parar. Seu fim e grande objetivo é apenas um: o lucro. O professor não pode adoecer, seu pai não pode morrer, seu filho não pode nascer. Um desarranjo intestinal já é suficiente para interromper a produção.  A linha produtiva não pode parar. O professor deve estar lá em frente ao maquinário escolar na hora, minuto e segundo exatos. Essa lógica faz com que a quantidade seja mais importante que a qualidade. Aulas, aulas e aulas... segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado, domingo, e se não impedidos pela lei, até mesmo nos feriados e dias santos. Os alunos fazedores compulsivos de provas, recebem um bombardeio de informações, e muitas vezes não conseguem fazer uma adequada conexão entre elas para compreender a realidade na sua totalidade. Para fazer uma leitura política e ética das relações sociais nas quais estão implicados.
     Algumas vezes o ambiente escolar é triste. O "dionisíaco" quase que inexiste. Jovens pálidos, máquinas também, mecânicos, "apolíneos" demais em plena juventude, como diria o mestre Nietzsche. Uma racionalidade do mercado impera nas escolas, treina e prepara infinitamente fazendo provas e preparando para novas provas... Agora a prova da vez é o tão esperando ENEM. A arte, a vida, a música, o teatro, o riso, o lúdico, o desportivo, o bater do violão, o diferente, a alegria de viver, as pulsões criadoras, o exercício juvenil da liderança política estudantil, a "desordem 'ordenadora' de Dionísio" que faz  a alma encontrar sua 'sanidade' ao se expressar com o grito cênico, não encontram lugar nessa maquinaria. Como no The Wall do Pink Floyd, estamos todos caminhando enfileirados para essa a "moeção". Com esse sangue e carne humanas fazemos o sistema funcionar.
    Estamos na época do controle. Agora quando aqui vos escrevo no facebook, na iminência de entrar para a sala de aula nesse 15 de outubro de 2013, dia do professor, sei que sou controlado e que também controlo. Essa rede social aqui é um poderoso instrumento de controle. Todos estão vigiando a todos. O que cada um pensa, o que cada um diz, suas tendências ideológicas, suas posições políticas. Mas vivemos, cremos, num regime democrático de liberdades. Aliás alguns ainda creem que esse sistema tem como maior valor político e cívico, a liberdade. Muitos ainda pensam que a liberdade de imprensa, por exemplo, é autêntica liberdade de expressão, e não liberdade de "empresa" comprometida tão somente com seus dividendos. O uso autêntico da liberdade é um exercício daqueles que decidiram ser autárquicos.
    Afinal, o que devemos comemorar hoje? Comemorar a força de cada colega, de cada professor que apesar de muitas vezes não serem devidamente respeitados ou reconhecidos como educadores, mas vistos como "dadores de conteúdos, repetidores de saberes vistos", "descartáveis" especialmente quando passam dos cinquenta ou sessenta, mudam a realidade, abrem perspectivas novas para seus discentes, alimentam sonhos, fomentam o novo e formam a cidadania.
     Parabéns aos colegas que, muitas vezes doentes, estão diante de seus alunos com um sorriso no rosto. Parabéns aos colegas que ainda têm forças para ensinar com alegria, mesmo depois de horas e horas corrigindo centenas de provas. Parabéns aos colegas que nunca ouviram de seus diretores ou coordenadores, um elogio sequer pelo seu genial trabalho. Parabéns às professoras que cuidam de crianças tão pequenas, que levam tanto trabalho para casa, e que não recebem nem um centavo de hora atividade por isso. Parabéns aos professores que, ainda em um ambiente desumano, estranho, de relações tão frágeis, cultivam laços de amor e amizade. Parabéns aos alunos por manifestarem tanto carinho e amor aos mestres. Parabéns àqueles que mesmo não vendo esperança no horizonte, insistem em mantê-la como força utópica que os move rumo ao amanhã. Parabéns colegas, parabéns seu dia!

Railton Nascimento Souza, docente no ensino superior e médio, é especialista em ensino de filosofia pela Universidade de Brasília (UnB), diretor de formação da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil e diretor de formação do Sinpro Goiás.