domingo, 25 de outubro de 2020

DISCURSO DE POSSE DO PROF RAILTON SOUZA

 DISCURSO DO PROF. RAILTON SOUZA  – POSSE NOVA DIRETORIA SINPRO GOIÁS 2020 – 2024 - 20.10.2020

“Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e 

são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis.” Bertolt Brecht

Boa noite colegas professores presentes, funcionários do Sinpro Goiás, dirigentes sindicais, representantes da entidades da sociedade civil, autoridades, familiares e amigos! 

Há 4 anos, em 20 de outubro de 2016, em pleno decurso do golpe do capital contra o trabalho, travestido de impeachment, a Diretoria do Sinpro Goiás tomava posse, com a tensão e a consciência de quem sentia, imaginava e antevia os enormes desafios que enfrentaria. A história confirmou o que se esperava. Foram quatro anos de luta intensa, sem trégua. 

O Sindicato dos Professores do Estado de Goiás enfrentou, nesse período, os maiores ataques aos direitos da categoria da nossa história recente. Reforma trabalhista e Terceirização Ilimitada durante o governo Temer, para citar os primeiros graves retrocessos. A Emenda Constitucional 95, que congelou os investimentos do estado brasileiro em todas as políticas sociais, foi outro atraso que alcançou a classe trabalhadora brasileira como um todo. 

Ombreados com a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil-CTB, com a Fitrae-BC, Contee e com o Fórum Goiano em Defesa dos Direitos, da Democracia e da Soberania, lutamos nas ruas contra cada um desses retrocessos.

Mas as investidas contra os direitos dos trabalhadores não paravam por aí. 

Com a eleição de Bolsonaro, alçado ao poder pela força dos interesses do capital internacional e nacional, que para atingir tal objetivo utilizou os meios sujos da “fake news” e da “prisão de Lula, então líder das intensões de voto”, a sociedade brasileira, a classe trabalhadora e as entidades sindicais, passou a um período de trevas. 

Como se não bastasse o STF declarar constitucional o fim da contribuição sindical obrigatória, a edição de medidas provisórias destinadas a desestabilizar os sindicatos, como a 873 que proibia o desconto da contribuição sindical em folha de pagamento, passou a ser uma constante nessa nova fase de ataques declarados pelo capital contra o trabalho. 

Tais medidas levaram o Sinpro Goiás a reduzir a 1/3 sua equipe de funcionários e sua estrutura funcional. A diretoria do Sinpro Goiás teve que tomar medidas administrativas responsáveis e muito difíceis para manter a sede do sindicato aberta, com todos os seus departamentos, financeiro,jurídico, comunicação e Sinpro na Escola em funcionamento, atendendo a categoria docente, das 7h da manhã às 18h, de segunda a sexta. Tudo isso mantendo o patrimônio do Sinpro Goiás, que é da categoria, e sem endividamento. 

Como se não bastasse tantos desafios, em 15 de março de 2020, nota Técnica da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás suspendeu as aulas presenciais no nosso estado em razão da terrível Pandemia da Convid-19, o que levou a categoria docente a um nível mais tenso ainda de pressão psicológica. Desde o 

Conselho Estadual de Educação a representação do Sinpro Goiás defendeu a publicação de Resoluções (a começar pela CEE/CP N. 02/2020 que instituiu o Regime de Aulas Não Presenciais), a fim de garantir aos professores emprego e aos estudantes o direito à educação, mantendo-se assim o Sistema Educativo de Goiás em pleno funcionamento. 

O Sinpro Goiás defendeu na imprensa, nos conselhos municipal e estadual, no Centro de Operações Emergenciais-COE, no Ministério Público, Ministério Público do Trabalho, na Defensoria Pública, a incolumidade física e psicológica e os direitos dos professores e professoras, exercendo papel decisivo para que as aulas não voltassem de forma presencial, sem as condições de biossegurança e sanitárias para tanto, e para que o calendário escolar aprovado no CEE/GO, que previa férias em julho e respeito aos feriados, fosse cumprido.

Com a abrupta determinação do necessário isolamento social, a categoria docente se viu, de uma hora para outra, forçada a aprender rapidamente novas tecnologias para a mediação das aulas não presenciais. Passou a ser demandada como nunca a se expor virtualmente, de uma forma para a qual não estava preparada. O professor teve que adaptar sua casa para o ensino remoto e trabalhar duro, com recursos técnicos, internet, e insumos próprios, e ainda sob ameaça real de redução de salários, suspensão de contratos ou mesmo de demissão. As consequências em termos psicológicos tanto para alunos quanto para professores estão a olhos vistos nos pedidos de socorro que o sindicato tem recebido nesse período e na grande procura por profissionais de saúde mental, apontadas nos levantamentos estatísticos das secretarias de saúde do município e do estado.

Em nome de manter o emprego e a renda dos trabalhadores, o governo federal, ao editar as MPs 936 e 927, permitiu mais lesões aos direitos dos professores, como férias concedidas sem o devido pagamento conforme determina a CLT, 13° salário, FGTS e previdenciário. 

Nessa fase de Isolamento Social o departamento jurídico do Sinpro Goiás, apesar de sua pequena estrutura, se manteve em plantão contínuo, publicando notas, oficiando as instituições de ensino, acionando o Ministério Público do Trabalho e a Justiça do Trabalho quando a demanda exigia tal ação.

O Sinpro Goiás lutou duramente e manteve as Convenções Coletivas de Trabalho-CCT da Educação Básica renovadas até 30 de abril de 2021 e obteve reajustamentos salarias acima da inflação. Quanto ao Ensino Superior, a CCT foi renovada até 30 de abril de 2019 e Sindicato dos Professores não aceitou a imposição patronal que visava impor cláusulas humilhantes e degradantes aos professores durante o processo negocial, o que levou o Sinpro Goias, até o presente momento, a recorrer ao Ministério Público do Trabalho e TRT 18 em busca de pactuar nova CCT dentro de parâmetros normativos que respeitem a dignidade da categoria e o valor social do trabalho. 

Agora, na condição de presidente reeleito, quero agradecer a todos os funcionários e diretores que estiveram no início da atual gestão e aos que permaneceram até agora. Obrigado pela dedicação de cada um ao Sinpro Goiás. O zelo de vocês é pela causa mais nobre de todas: a luta na edificação de uma sociedade justa, socialista, que estabeleça relações sociais e de trabalho que respeitem os direitos e a dignidade dos trabalhadores, que valorize a carreira docente e a profissão professor como condição necessária para o desenvolvimento humano, social e econômico com vista à edificação de um país verdadeiramente democrático. 

A nova diretoria do Sinpro toma posse hoje com expressiva renovação e com maior presença de mulheres. Aos que deixam a atual direção, fica o agradecimento do sindicato e a certeza de que a luta só está começando. A classe trabalhadora continuará contando com a sua atuação e defesa dos seus direitos. 

Dirijo-me a você novo diretor e nova diretora, delegada sindical e delegado sindical, que travou uma dura batalha, no processo da eleição eletrônica do Sinpro, estabelecendo contato direto com a categoria, ouvindo suas críticas e colhendo suas demandas ao pedir o voto e apresentar a Carta Programa com as bandeiras de luta.

Afirmo-lhe que ser sindicalista é se colocar a serviço da categoria, é saber ouvir, é saber dizer não com firmeza ao que é injusto e danoso para a classe que representa e sim, sem titubear, à voz da categoria que lhe elegeu quando lhe convocar para socorrê-la e a defendê-la. Ser sindicalista é saber negociar, utilizando a inteligência, a capacidade de comunicação e o estudo teórico e técnico, sem abrir mão da ética e da defesa inabalável do direito, da correção e do interesse coletivo. Parafraseando Flávio Dino, é “conectar o seu coração ao coração do povo”. 

Ser sindicalista é liderar pelo exemplo. Não é lutar um dia, uma semana, um mês, um ano ou alguns anos. É lutar sempre! Ser sindicalista é saber trabalhar em equipe, compreender a força do coletivo. É força de transformação, de esperança, que aponta para frente e indica o caminho. É coragem. É “pelear a peleja do povo”, impelido pelo ideário que leva à certeza de que um outro mundo, com justiça, igualdade e dignidade para homens e mulheres trabalhadores, é possível. Concluo minha fala reafirmando o compromisso dessa Diretoria, que hoje toma posse, já anunciado na Carta Programa na Chapa “Sinpro Goiás, na Luta com Você, na Defesa da Vida, da Democracia e do Emprego com Direitos”, com categoria docente até 20 de outubro de 2024. Seu compromisso é lutar por: 

- VIDA plena, saúde, com garantia de incolumidade física e mental dos 

professores/as, condições salubres de trabalho; e a solidariedade, como 

bandeira primordial; 

- ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO, maior conquista histórica da 

sociedade brasileira, cotidianamente aviltado, pelos três poderes; 

- garantia da LIBERDADE DE ENSINAR E APRENDER, mais do que nunca ameaçada; 

- rigorosa punição para a prática antissindical em escolas e sindicatos patronais; 

- a reconstrução das liberdades sindicais, preservando-se a unicidade sindical;

- o revigoramento das políticas públicas de educação, saúde e previdência, que reclama a imediata revogação da Emenda Constitucional (EC) 95, 

responsável pelo congelamento de todas políticas sociais, até 2036; 

- a recriação do Ministério do Trabalho e Emprego; sendo o Brasil o único país que não mais o possui; 

- a proteção contra o desenfreado e descompromissado crescimento da educação à distância; - a proteção do direito de imagem e da produção intelectual, indevida e ilegalmente apropriados por estabelecimentos de ensino inescrupulosos; 

- as condições tecnológicas e os meios de comunicação necessários ao trabalho docente, respeitando-se sua jornada de trabalho contratada e o direito a desconexão;

- a manutenção dos direitos já conquistados; 

- a valorização da carreira docente, impiedosamente vilipendiada pelos poderes públicos e pelas escolas; 

- cuidado com o meio ambiente, sem o qual não há vida saudável para todos;

- melhoria das condições salariais dos professores e professoras;

- a inclusão dos/as trabalhadores/as, a irredutibilidade dos salários, e o respeito aos seus direitos frente ao avanço das tecnologias de informação;

- direitos à maternidade da professora e combater todas as formas de 

discriminação de gênero e de assédio; 

- a valorização da carreira docente, em todos os seus níveis de ensino, impiedosamente vilipendiada pelos poderes públicos e pelas escolas;

- os direitos e a dignidade dos/as professores/as idosos/as;

- a construção da escola que queremos alicerçada nos pilares da leitura e da interpretação críticas do mundo e formação da autonomia para o exercício da cidadania ativa;

- o combate à discriminação racial e a todas as formas de preconceito, atuando junto às entidades que defendem essa bandeira, considerando o que determina a lei 10.639/2003;

- os direitos das pessoas com deficiência nas instituições de ensino e na sociedade em geral; 

- a educação pública e gratuita como direito e combater a mercantilização, a financeirização e a desnacionalização do ensino, assumindo a palavra de ordem: “EDUCAÇÃO NÃO É MERCADORIA”;

- a autonomia dos Conselhos Nacional, Estadual e Municipal de Educação; 

- o fortalecimento e participação ativa nas instâncias sindicais às quais o SINPRO GOIÁS está filiado: Federação Interestadual dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Estabelecimento de Ensino do Brasil Central (FITRAE-BC) e  Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimento de Ensino (Contee); 

- apoio e participação na luta classista da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), à qual o SINPRO GOIÁS está filiado, visando o seu fortalecimento para a luta geral dos trabalhadores a fim de deter os retrocessos e retiradas de direitos em curso no Brasil;

- a soberania dos povos na condução dos seus destinos políticos, com a inclusão das minorias sociais, respeito à classe trabalhadora e combate às desigualdades sociais e de gênero;

À LUTA!

Sísifo moderno

 O TRABALHADOR É O SÍSIFO MODERNO 

Eis a condição do trabalhador brasileiro depois de tantas reformas feitas pelo governo, e em curso, que lhe retiram direitos sociais, trabalhistas e previdenciárias: trabalhar de segunda a segunda, até a morte, com salário insuficiente para manter suas necessidades b

ásicas, alimentando forçadamente a lógica perversa da concentração de renda do país. Sísifo, personagem da mitologia grega, foi condenado pelos deuses a rolar uma pedra até o alto da montanha. A pedra descia de volta e Sísifo, eternamente, deveria repetir tal tarefa inglória. Para romper essa fatalista condição, só a força positiva e coletiva do povo. Ao tomar consciência de que tal realidade degradante deve ser mudada a classe trabalhadora, Sísifo moderno, dará a reposta política em favor se sua própria libertação. Para tanto, valores como justiça social, soberania, cidadania plena, ética, valores sociais do trabalho, direitos humanos e solidariedade devem ser pilares inabaláveis de nossa democracia.

Texto escrito em 15 de setembro de 2018 em face das contrarreformas com a trabalhista do golpista Temer e previdenciária de Bolsonaro que rasgaram direitos históricos da classe trabalhadora brasileira na CLT e na CF88

VOCÊ É RESPONSÁVEL


CONSCIÊNCIA POLÍTICA É UM DEVER DOS CIDADÃOS E DAS CIDADÃS! O INDIVIDUALISMO EGOÍSTA NÃO DÁ SEGURANÇA NEM MESMO AO PROJETO INTIMISTA DE FELICIDADE. SEM UMA EFETIVA GARANTIA DO BEM COMUM ATRAVÉS DE UM PROJETO POLÍTICO JUSTO, NÃO HÁ COMO HAVER FELICIDADE NO PLANO INDIVIDUAL. A DEMOCRACIA DEVE ORIENTAR A AÇÃO DOS GOVERNANTES COM BASE NO ABSOLUTO RESPEITO À VONTADE GERAL, EXPRESSA EM LEIS. POR TUDO ISSO, NÃO PODEMOS NOS OMITIR JAMAIS DIANTE DA USURPAÇÃO DO PODER POR PARTE DE FORÇAS ELITISTAS QUE DESPREZAM O BEM COLETIVO E CONSEQUENTEMENTE AS LIBERDADES INDIVIDUAIS. VIVER SOB UM REGIME ILEGÍTIMO É VIVER NUM ESTADO ONDE TODOS OS DIREITOS ESTÃO EM RISCO, POIS O USURPADOR QUE NÃO FOI ELEITO NÃO DEVE SATISFAÇÃO A NINGUÉM,  MAS TÃO SEMENTE SE PREOCUPA EM DIVIDIR O ESPÓLIO QUE CONQUISTOU À FORÇA DAS MENTIRAS E TRUCULÊNCIAS COM SEUS PARES.


Texto escrito em 15 de maio de 2016 em pleno decurso do golpe do capital contra o trabalho travestido de processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff

A verdade

Quando eu era bem pequeno perguntava a mim mesmo porque o mundo não era perfeito. Queria saber porque a gente se machucava tanto. Compreendi cedo que errávamos e que o tempo não voltava para corrigirmos os erros. Então busquei sempre acertar. Mesmo quando errava, buscava acertar na escolha que fazia. Minha educação foi para o respeito, a ética e a civilidade. Como é difícil se deparar com pessoas que são estúpidas por convicção. Pergunto-me 'desde niño' onde está a verdade? Mas a verdade é tema filosófico por excelência. Ela assume tantas facetas. Mas aqueles que hoje se proclamam seus guardiões absolutos são os mais reprováveis em conduta. As ideologias são quimeras do reino prático do possível. Muitos, desde de Pirro, tornaram-se céticos. Outros, como Protágoras, relativizaram a verdade circunscrevendo-a no universo humano. O que nos resta nesse lindo país, repleto de esperança e igonorância, é ter muito cuidado. Viver é mesmo perigoso, como dissera Riobaldo. Enquanto nosso fim não chega, vamos manter a dignidade.

Texto escrito em 16 de julho de 2014

A sabedoria

 Sabedoria: superar a si mesmo


O argumento tolo convenceu a maioria e condenou Sócrates à morte.

O demagogo parece ter vencido o sábio? Sim.

O vulgo sucumbiu ao sofisma e entregou ao sábio o cálice de cicuta.

Mas quem a história consagrou como vitorioso? Sócrates.

O argumento do tolo, Nero, levou o sábio Sêneca à morte.

Quem a história consagrou como imbecil? Nero.

Cícero enfrentou Catilina. 

Quem era o sábio? Cícero. 

Mas acabou morto a mando de um tolo poderoso.

Giordano Bruno se deparou com o dogmático, Roberto Belarmino, que o levou à fogueira. 

Quem a história colocou na fogueira eterna? Belarmino.

Galileu Galilei teve que aceitar a arrogância do esclarecido Papa Urbano VIII que, orgulhosamente cego  pelo poder, defendeu o tolo geocentrismo contra as provas experimentais produzidas pelo telescópio do cientista.

Quem venceu? 

O heliocentrismo de Giordano Bruno e de Copérnico. 

Galileu derrotou a todos e deu a luz à ciência. 

O sábio Jesus padeceu sobre o tolo Pilatos ouvindo o infernal ensurdecedor grito do vulgo: Crucifica-o!

A tolice está em moda e desavergonhada.

A tolice tem o voto da maioria na câmara e no senado. 

A tolice é o governo que é o desgoverno.

A tolice se veste de verde e amarelo e até de vermelho. 

A tolice vota contra si mesma.

A tolice tomou as ruas.

A tolice está na igreja medíocre.

A tolice é nossa vizinha.

A tolice está diplomada.

É douta.

A tolice é escola, faz escola. 

A tolice é acima de tudo a mídia.

É o rádio.

É a TV.

A tolice tomou conta das redes sociais.

Está nos cercadinhos, nas bolhas de falsas notícias.

É a pretensa vontade de verdade.

A tolice é uma família de mamíferos perdida numa esquina do infinito.

Mas a tolice não consegue superar a si mesma, pois não se enxerga.

A tolice é ignorância por pressupor saber o que não sabe.

A tolice é endinheirada. 

A tolice é pobre.

A tolice tirou a vida do sábio.

Mas a sabedoria está viva.

A sabedoria é a esperança.

A sabedoria é imortal. 

A sabedoria é eterna.

A sabedoria vê o mistério.

A sabedoria é o mistério. 

A tolice é truculenta.

Bate e tortura por não ter o melhor argumento. Por não ter argumento. 

A tolice é despótica. 

A sabedoria  sofre derrotas, mas vencerá com o fim desse caos que por ora se disfarça de cosmos.

A tolice é um bípede sem plumas sem "sapare aude".

A tolice somos nós quando nos resignamos ao óbvio.

Sabedoria é transcender, é superar a si mesmo. É ir além do homem.

Ela começa com o "thaumazein".

No topo da montanha o ar é rarefeito e são raros aqueles que o alcançam.

Mas a vista de lá é esplendorosa.


(Friedrich Von Brasilis)

Texto escrito em 13 de setembro de 2019

A ignorância

 A Ignorância!


Ai meu Deus que horror! Hoje me deparei com a encarnação da ignorância. Ela era sensual, atraente, mas dentro de si havia o mal. Seu olhar, semblante, queriam me arrebatar. Desviava o olhar para que minha alma não fosse contamidada com aquele enxofre que a bestialidade exalava. Vi que sua face queria arrebatar minha sabedoria.  Queria roubar minha alma, levando-a para o reino da tolice. Mas resisti bravamente como sempre o fiz. Continuo resistindo e sempre resistirei até o último suspiro do meu frágil corpo.  Deus me livre do mal!  Railton 

Obs: Texto escrito em 13 de outubro de 2014 em razão da ignorância política instalada no período eleitoral da disputa pela presidência do Brasil quando consigamos derrotar o farsante e corrupto Aécio Neves 

Existir e conferir sentido à vida

Existir por milésimos de segundo e conferir sentidos à vida 


Respondeu um filósofo: não há certeza nenhuma para isso, ao meu ver, considerando o tempo. Parece que estar vivo e perceber o mundo ao seu redor, respondendo estímulos externos. No nosso caso humano que temos um sistema nervoso complexo. Mas na verdade, estamos mortos considerando a insignificância do tempo de nossa existência e o tempo cósmico. Todavia, seguimos vivos por alguns milésimos de segundos, com estímulos ainda, percebendo limitada e parcialmente o que chamamos de realidade. Quando consideramos o tempo, temos a certeza de que estamos mortos. O existir humano é como o da borboleta. O ínfimo presente passa a não existir e com ele o que chamamos de vida. É a nossa percepção de temporalidade e consciência que nos faz vivos por segundos. Mas a  infinitudade do tempo, sob a ótica de nossa percepção nos dá a certeza de que estamos essencialmente mortos e que não somos nada. Estamos sendo durante ilusórios milésimos de segundo de nossa percepção do que é, ou seja, segurados na existência pela experiência do tempo. Viver então no nosso caso é dar um sentido a esses estímulos breves e temporários através do que chamamos inteligência. Somos os únicos que refletimos sobre a nossa percepção da realidade, ainda que de forma  ilimitadamente. Entretanto, é quase vã nossa tentativa de controlar e desvendar pelo conhecimento o inefável problema do real e de nossa percepção dele, nessa fugaz experiência na linha do nosso tempo existencial. Há forças obscuras (biopsíquicas) que nos movem, sem que tenhamos  clara consciência delas, e que ofuscam nossa já anunciada percepção da realidade. A morte nos cerca a cada minuto, mas aprendemos a afastá-la e até mesmo ignorá-la. Encontramos remédios e sentidos para os segundos de nossa ofuscada percepção do real, vivendo como se nunca fôssemos partir. Viver é encontrar maneiras eficientes de adiar a morte. De nos segurar nesses breves segundos. É aprimorar a percepção e a atenção. É estar sempre de olhos bem abertos e saber que estamos essencialmente mortos para o tempo cósmico, realidade que negamos às vezes em alto estilo ou mediocrimente nega ao nos brindar quando conferimos sentidos e fruimos nosso existir. Viva a vida. Mantenha a chama fumegando e cuidado com o vento forte que pode lhe devolver antes da hora para a eterna e constante morte da intemporalidade. A fé contesta a nossa nadidade. Ela consiste na esperança da existência numa outra dimensão, fora de espaço e tempo, uma realidade inefável, a plena existência, o ser imóvel e permanente, a vida plenamente lúcida, realidade que torna desnecessária a própria percepção temporal-espacial por se tratar de puro ser. Railton 
Texto escrito em 27 de setembro de 2014

Feliz madrugada do professor!

 Feliz madrugada do professor!


Faço minhas as palavras do eterno Gonzaguinha: “Viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar a beleza ser um eterno aprendiz. Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será, mas isso não impede que eu repetia: É bonita, é bonita e é bonita”.
Hoje é o dia do professor. Aqui em Goiás, em geral, estamos trabalhando em sala de aula nesse dia a nós dedicado. A data não é considerada no calendário oficial das escolas feriado. Algumas instituições fazem permutas, concedendo folga ao professor em outro dia. Mas a grande maioria delas nem isso faz. No máximo oferecem um lanche comemorativo.
No meu imaginário vem muitas recordações desses quase vinte anos de sala de aula. Quando comecei era início do ano de 1997. Recordo-me quando entrei em sala de aula pela primeira vez. Ao abrir a porta da sala de aula encontrei várias crianças na faixa etária de dez anos, com olhos brilhantes e arregalados, cheios de vida olhando para mim. Eu tinha a missão naquele tempo de ensinar filosofia para crianças. Como foi empolgante perceber como as crianças são autênticos pensadores. Cheias de perguntas e ideias. De lá para cá foram tantas experiências. Anos e anos dedicados ao ensino médio e superior. Trabalhei em tantas escolas. No ensino superior formei advogados, administradores, pedagogos, engenheiros, filósofos entre tantas outras profissões.
Acordei hoje me perguntado o que é ser professor e o que isso significa para mim. Hoje será um dia longo. Estarei em sala de aula nos três turnos. Começo agora, sete da manhã, e só termino por voltas das vinte e duas horas.
A primeira imagem que me vem para compreender o meu fazer, e o seu sentido, é aquela do semeador, utilizada já antes de Cristo, pelos sofistas gregos, primeiros sistematizadores da educação no nosso mundo ocidental. Ser professor é lançar sementes, é cuidar da terra, cultivá-la. Encontramos terrenos mais férteis e outros mais áridos. Mas nossa missão é criar as condições para que a vida germine, para que a humanidade floresça e dê muitos frutos de civilidade, de sensibilidade, de criatividade, de fraternidade e solidariedade.
A educação institucional, nesses tempos de prevalência de uma racionalidade instrumental, reduziu-se à adequação, à adaptação. Os professores têm como missão, especialmente no ensino médio e superior, preparar os discentes para a inserção na dinâmica da produção e consumo.
O sucesso do nosso trabalho, portanto, está diretamente relacionado aos índices de aprovação nos sistemas nacionais de avaliação. Nossa missão é mesmo de treinar nossos alunos para realizarem provas. A escola tornou-se uma rede de produção em série, ininterrupta, de avaliações. A mecânica da sala da aula, a rotina dos procedimentos, a racionalizações dos processos, o controle rígido do cronômetro, das horas, dos minutos e dos segundos. O calendário de aulas, provas e a contagem regressiva para o dia da avaliação do Enem ou do Enade é a bússola que orienta nossa direção.
Por vezes, essa mecânica escolar própria de uma racionalidade que não pergunta os “para quês” do que faz, torna nosso ambiente de trabalho educativo robotizado, frio e até mesmo desumano se pensarmos que o afeto e a sensibilidade são dimensões centrais de nossa humanidade.
Nessa lógica, recordo-me de Friedrich Nietzsche e arrisco pensar como seria uma educação nietzschiana. Certamente não seria “apolínea”, mas permitiria que o “dionisíaco” desse vasão à nossa vontade de potência, o que faria a vida fluir. Seria uma escola onde a criação, a música, a dança, o experimento, a alegria e os sentimentos mais nobres estariam nos ares o tempo todo...
...Comecei esse artigo pelas sete horas da manhã e não consegui termina-lo pois fiquei em sala de aula durante a manhã, a tarde e noite. Acabei de chegar em casa. São vinte e três horas do dia 15 de outubro de 2015. Estou exausto, mas incrivelmente vivo, cheio de disposição. Minha família já dorme. Estou assistindo o programa Diálogos transmitido pela Globo News que entrevista o professor de direito Dalmo Dallari, emérito da USP. Ouço com muita satisfação a análise do catedrático, embasado na Constituição Federal, sobre a impertinência dos pedidos de impeachment que são apresentados contra a mandatária da nação. Concluo então que o grande mal dessa nação é a ignorância. O professor Dallari faz uma reflexão sóbria sobre a inconformação da oposição com a derrota, o que afunda o país numa crise política que se materializa e se agrava como crise econômica. Sim a ignorância aqui não é só gnosiológica. É acima de tudo moral, espiritual. Ela é a expressão do atraso, do primitivismo civilizacional, que se converte em corrupção e outras formas desviantes de conduta.
Pois bem, voltemos a nossa questão central. O que é ser professor para mim? Não vejo minha profissão com heroísmo. Sei dos seus limites. Sei como são diferentes as realidades dos professores da rede pública e privada, dos níveis diferentes de ensino. Sei como a mercantilização e a proletarização da profissão professor intensificada depois da década de 1980 provocou a depreciação da carreira docente. O professor passou a ser um meio, um instrumento, uma máquina de dar aulas e gerar mais-valia para os proprietários das instituições de ensino. Reduziu-se a transmissor de saberes vistos, prontos, apostilados, acabados. Todas as pedagogias foram reduzidas à tradicional, magistocêntrica.
Muitos alunos e até mesmo proprietários das instituições de ensino veem os seus docentes como pessoas que, não conseguindo ser médicos, engenheiros ou empresários, foram condenados a ser professores. Temos que conviver também com a visão negativa e passiva de muitas discentes, vítimas desse sistema de adequação e treinamento, que não nos admiram efetivamente, mas olham para nós como alguém que jamais seriam enquanto profissionais.
Assim, não vejo o professor como um herói, um idealista, uma madre Tereza ou São Francisco de Assis. Somos trabalhadores, movidos por sonhos pessoais de realização. Mas sabemos dos efeitos políticos e sociais do nosso trabalho. Somos nós que mantemos esse sistema funcionando na medida que formamos todos os profissionais que o operam. Somos a alma da rasa subjetividade brasileira e da efetiva objetividade dessa sociedade da produção e consumo.
Nossa profissão é, finalmente, eminentemente política. O avanço da proletarização precarizante da atividade docente e o proliferação da fragmentação da educação institucional em pequenas e grandes empresas de ensino gera, em muitos trabalhadores, a sensação de isolamento, de desânimo diante da luta necessária que devemos implementar  para melhorar as condições reais de salário e de trabalho dos professores.
Na medida que tomamos consciência de nossa força, de que unidos podemos mudar a realidade da educação, da política, podemos exigir avanços em nossos direitos. Temos condições efetivas de vitória e isso deve nos encher de esperança. Ser professor, portanto, é ser um lutador do começo até o fim. Alguém que não abre mão de ser um grande mestre, um brilhante educador e nem de seus direitos. Ser professor é lutar sempre por conquistas não só para sua categoria, mas para todos os trabalhadores, absoluta maioria do povo brasileiro.
Ser professor é ser a expressão da consciência que fomenta a construção de uma subjetividade brasileira rica em arte, filosofia, sensibilidade e justiça. Ser professor é ter os pés no chão e a partir de aí mirar nas estrelas e saber que há um universo para se conhecer e conquistar. Ser é ser a força revolucionária que impele a todos a ser humanos melhores. Railton
Texto escrito em 15 de outubro de 2015

O DESAFIO ÉTICO DA COMUNICAÇÃO


 
Talvez o maior desafio ético do nosso tempo seja a comunicação, o entendimento dos canais semióticos disponíveis nas relações intersubjetivas e, consequentemente, compreender também as equivocidades que surgem aí. 
O diálogo na profundidade de sua acepção conceitual é raro, pois em geral o travestimos de dois monólogos. O que se agrava em tempos de fundamentalismo ideológico, de nivelamento vil das consciências em razão de campanhas políticas em favor da intolerância. 
Não há uma relação honestamente ética se não há disposição para o exercício da alteridade, a aceitação do outro como um outro, e o interesse de sair do nosso eu auto-centrado e ir ao mundo desconhecido do outro. Em geral, ficamos presos em nossas ilhas subjetivas lançando olhares e pré-juízos ao mundo dos outros. Aí o que nos parece estranho, torna-se mais inóspito ainda. 
Se há disposição para uma relação verdadeiramente intersubjetiva que respeite a alteridade, onde ambos estão em busca ascendente de valores nobres e delicadamente justos, é possível um profícuo e transformador diálogo. Mas às vezes nos deparamos com o intolerável, quando estranhamente "o inferno parece mesmo o outro", como pensou Sartre, ou seja, quando esse outro não aceita que existamos como decidimos existir enquanto "ser para si" que somos, construtores de nossa existência e do nosso ser único. Nos deparamos com o intolerável quando encontramos pessoas que não toleram a tolerância. E tolerância é o nível mais superficial de uma convivência em sociedade. Tolerar é admitir que o outro é diferente de mim, não me identifico com isso, mas respeito o projeto existencial dele. 
Karl Popper chegou à conclusão de que não é possível tolerar os intolerantes. Mas não tenho dúvida de que o nosso desafio primeiro é aprender a dialogar, ou seja, promover uma relação entre dois "logos", dois mundos subjetivos que são palavra, linguagem, sentidos, visões de mundo, sentimentos, hábitos, conhecimentos, valores, verdades... Dialogar é tocar um pedacinho do infinito que é o outro, respeitando sempre essa condição de que ele sempre será um universo que não pode ser totalmente desvendado, nem domesticado ou dominado. Railton
Texto escrito em 25 de outubro de 2019