01)
Vamos lá... A história do Brasil, desde o
infeliz Império, foi de intensa repressão aos movimentos populares. Um país que
foi construído com muito sangue de índios, negros, pobres e de revolucionários.
Notadamente durante o período regencial o cetro imperial verte muito sangue de
populares. Pois bem, vejam o que aconteceu durante a denominada República
Velha. O movimento trabalhista se organizou com o protagonismo de migrantes que
trouxeram para o nosso país os ideais anarquistas e socialistas. Esses proletários
europeus já tinham a experiência da organização trabalhista sindical no século
XIX. O Brasil naquele tempo não tinha industriais e tão pouco proletários. O
que tínhamos eram fazendas repletas de escravos. A República Velha reprimiu e
criminalizou os pobres, negros que formavam favelas, de marginalizados
analfabetos. Em 1917, antenados com o contexto internacional da Revolução Russa,
São Paulo entrou em greve geral. Naquele contexto eclodiram mobilizações
proletárias por várias regiões do país. A era Vargas começou reprimindo
comunistas e anarquistas. Criou o ministério do trabalho, concedeu direitos aos
trabalhadores, criou a CLT, sentou proletários e patrões e exerceu o controle
das lideranças proletárias suscetíveis ao poder e às suas regalias, massacrou
os ideólogos revolucionários ou os extraditou.
02)
A ditadura implantada entre 1964 e 1985 fez o
trabalho de aniquilar os movimentos sociais que se apesar de Vargas e que
continuaram após seu fatídico suicídio. Essa ditadura, iniciada por sob o governo
de Castelo Branco, criminalizou a participação política do povo, matou líderes
do movimento estudantil, operário, rural, artistas, professores...
03)
A redemocratização iniciada na década de 1980
(das diretas já até o horroroso governo de José Sarney) e efetivada sob a
gestão americana que atrelou as políticas econômicas do Consenso de Washington
aos empréstimos de instituições como FMI, BID e BIRD, viu o ressurgimento
gradativo dos movimentos sociais (mulheres, negros, estudantes, sem teto, sem
terra...). Com o processo de hegemonização do capitalismo, sem rival socialista
e com desmantelamento do caridoso estado do bem estar social, ficou cada vez
mais anacrônico lutar por causas sociais e políticas.
04)
A partir da década de 1990, e no nosso caso
brasileiro durante os governos de FHC, houve uma efetivação da tentativa de
inserção do país na globalização. Fernando Henrique não falava com os
movimentos sociais, tratava-os com truculência sob a argumentação de que eram
manobrados pela oposição, à época liderada pelo PT. A era FHC foi palco de
intensas manifestações e ações dos movimentos sociais, especialmente do MST que
ocupou até mesmo a fazendo do presidente tucano. Durante seu governo aconteceram
grandes passeatas, as famosas dos cem mil que marchavam de vários rincões do
país para Brasília (e lá eram afugentadas com as tropas e cavalarias de Joaquim
Roriz, govenador do DF, naquele tempo).
05)
Durante a Era Lula aconteceu um gradativo
processo de arrefecimento das grandes manifestações. Ainda que indiretamente,
vários setores dos movimentos sociais sentiram-se no poder, e efetivamente
lideranças advindas do sindicalismo e de outros movimentos organizados passaram
a figurar os primeiros e segundos escalões do governo federal. A era Lula com
suas políticas sociais, com a geração de emprego, com as políticas que
favorecem o crescimento da chamada classe C, e com a paz com os bancos e
gigantes do capitalismo tupiniquim, provocou um otimismo geral e uma sensação
de que o país estava imune à crise (uma marolinha). Entretanto, os fundamentos
das políticas do Consenso de Washington efetivadas pelo FHC, foram mantidas
pelos governos do líder do ABC, sem alterações substanciais significativas. O
discurso que justificava tal continuidade era a responsabilidade e pacto estabelecido
na Carta aos Brasileiros, idealizado pelo Palocci.
06)
Psicologicamente
pensado, depois de mais de dez horas de trabalho em sala de aula, reconheço uma
crise de abstinência do povo, uma falta de válvulas de escape. Os programas de
auditório imbecis, o futebol, as igrejas neopentecostais com seus milagres ao
vivo na TV não foram suficientes para conter a massa popular reprimida.
07)
É fato que o movimento estudantil secundarista,
organizado e bem pautado, mas não levado a sério pela sociedade civil brasileira,
até porque é formado em sua grande maioria por estudantes advindos de escolas
públicas (e no discurso pós Consenso de Washington, tudo que é público não
presta), foi quem iniciou essa onda de protestos. Eles já faziam nos últimos
anos manifestos em várias regiões do país, especialmente no nordeste. A pauta
inicial dessas mobilizações que tomam conta do país foi colocada por eles:
reduzir os preços das passagens de ônibus e melhorar a qualidade do transporte
público.
08)
Outros movimentos sociais, como o movimento pelo
passe livre, levantaram a mesma bandeira e foram para a rua. Começaram os manifestos em Goiânia, São
Paulo, Rio, BH... Inicialmente a imprensa latia a palavra VANDALISMO.
09)
Depois
que jornalistas da Globo, estadão, carta capital, no quinta 13 de junho, tomaram balas de borracha e repressão da
polícia e que o governador de São Paulo Geraldo Alckmin disse que a polícia
havia agido corretamente e que os insatisfeitos procurassem a corregedoria, e
também o jovem prefeito da rica São Paulo, Fernando Haddad disse que não
abaixaria o preço da passagem, aconteceu o que vimos na segunda dessa semana,
17/06, aproximadamente cem mil no Rio, mais de 60 mil em São Paulo, milhares em
BH.
10)
O
sentimento de indignação da população com os gastos excessivos da copa, bilhões
e bilhões atrelados à recorrente corrupção, o custo de vida muito caro, a
manipulação da imprensa, levou o povo às ruas. O movimento se consolidou,
conquistou setores multifacetados da sociedade, gente de partidos vários, sem
partido, de movimentos sociais diversos, classes médias e populares, bandidos...
11)
O que
vemos agora são manifestações que fogem do controle do Estado brasileiro e que
mostram a fragilidade de nosso aparelho policial (formado sob os paradigmas da
assassina ditadura militar). As redes sociais são um poderoso instrumento de
rede que liga (link) todos. Não um movimento, mas movimentos dentro de uma
grande massa (movimentos conservadores, revolucionários).
12)
Há hoje uma briga de bastidores (gente grande,
governadores, parlamentares, líderes dos movimentos sociais, interessados em
pautar o movimento ou em imputar o ônus dele à Presidente, ao governo do
partido dos trabalhadores). Enfim, estamos diante de algo complexo...
13)
Jovens conscientes politicamente (apesar dessa
geração das décadas de 10 e 20 do século vigente ser rotuladas de apolítica)
outros tantos indo pela onda, mas estão se inserindo. Saqueadores, jovens que
querem jogar para fora sua falta de sentido, sua falta de norte existencial,
gerado por um contexto que acabou com os sonhos, com os ideais e utopias da “moçadinha”
que vive sem arte ou filosofia (voltados para uma escolarização técnica em
função frenética de aprovação de exames)...
14)
Para onde vai essa massa de mais de um milhão, multifacetada,
que saiu pelas ruas do Brasil hoje? Desfar-se-á no ar? Quem está pautando essa
massa? As pautas que vão de tornar hediondo o crime de corrupção ao fim do
forro privilegiado para políticos, são exequíveis? Não há outras pautas mais
importantes e revolucionárias que fariam mais efeito e mudariam o Brasil de
verdade? Estou aqui pensado... O preço do estado brasileiro, o monopólio
cruzado das grandes empresas de comunicação, o péssimo serviço das empresas de
comunicação multinacionais que cobram mais caro que nos país europeus ou nos
estados unidos e que oferecem um serviço de merda para os trouxas brasileiros?
( aqui em Goiânia não haverá copa do mundo, então não teremos gringos
utilizando o 4G, logo ficaremos com a porcaria do 3G pago ao preço daquele
oferecido aos nobres do hemisfério norte). O investimento de 10% do BIP para a
educação? O que você pensa?