segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Diário no encalço dos Incas - Parte IV

CORTANDO O CABELO


Hoje são 06 de janeiro de 2005. Tomamos aquele mesmo belo café. Os meninos saíram para fazer compras e trocar moedas na casa de cambio. Estou aqui agora diante do computador do hotel e o Otto está no quarto.

FINALMENTE DE MOCHILAS NAS COSTAS

São 9h 33min e estamos aguardando as passagens aqui no hotel. Eu e o Saldanha saímos para cortar o cabelo. Quando voltei ao hotel os meninos já estavam acertando a conta, com as passagens em mãos e mochilas nas costas. Saímos às pressas nos táxis e nos dirigimos a Puerto Quijarro.

TOMANDO O TREM DA MORTE


Quando lá chegamos, avistamos uma longa fila na estação. Confesso que ainda estávamos um pouco tensos por causa de uma sério de coisas que nos disseram sobre perigos. Boa parte delas, é claro, são míticas.
Pegamos a taxa de embarque e entramos no vagão A103 na modalidade Pullman, única que encontramos. Estávamos todos "a postos" no trem da morte. Ele é chamado TREM DA MORTE por alguns fatores do passado. Era o único meio de transporte que atravessava a Bolívia. Por causa das dificuldades do país, comenta-se que nos anos 70 e 80 do século XX, muitos viajavam em cima do trem e pendurados de qualquer maneira. Consequentemente caíam do trem e morriam. Outros narram uma epidemia de febre amarela que acometeu a Bolívia algumas décadas atrás. O trem foi utilizado para o transporte dos doentes.

TREM DO PÓ

Depois passou a ser conhecido também como "trem do pó", na década de noventa. Traficantes utilizavam o trem para transportar cocaína produzida na Bolívia até à fronteira com o Brasil e depois para a Europa.

O que avistamos aqui parados na estação, esperando a saída do trem são vendedores de comidas simples. Inúmeras crianças vendendo sucos de limão. Limonada! Limonada! Limonada! Vendem pratos feitos, churrasquinhos e coisas do gênero. São artigos muito, muito simples.
Nosso grupo não comprou nenhum desses artigos. Não havíamos almoçado ainda. O calor era muito forte. Suávamos muito. O estranhamento foi imedianto. O André, no início do percurso estava como que em estado de "choque". Não estava, aparentemente, preparado para o que enfrentaria.

FAZENDO AMIGOS NO VAGÃO A103

Conhecemos alguns bolivianos que viajavam no mesmo vagão A103, Mayeca, Fernando (um brasileiro-boliviano); Percy e Damary. Havia também muitos estrangeiros nos outros vagões. Eram australianos e europeus.




Diário no encalço dos Incas - Parte III

 
Otto, O PAULISTANO


Havia também um paulistano, perdido, todo suado. Não tinha as informações básicas (carimbo de passaporte, formas de comprar as passagens) e queria embarcar imediatamente para Santa Cruz de La Sierra. Logo o convidamos para se hospedar conosco no Hotel Nacional. Fomos transferidos para um quarto maior com seis camas. O Otto é uma pessoa legal, todos nós o acolhemos bem.

NOSSO NOVO PLANO
 
Nosso plano era acordar amanhã de manhã e ficar na fila da estação para viajar num possível trem extra que sairá amanhã. Teríamos que ficar na fila desde as 04h e 30min para esperar abrir o guinche às 8h. Se tudo desse certo viajaríamos às 13h.

DE VOLTA AO HOTEL NACIONAL


Voltamos ao hotel e ficamos na piscina conversando. O Saldanha sugeriu que procurássemos uma empresa de turismo que foi indicada pelo hotel no primeiro dia da nossa chegada. Ligamos um tal Roney, dono da empresa.
Recebemos uma resposta positiva sobre a compra das passagens de trem para amanhã às 13h, no Pullman. Logo em seguida ele me ligou dizendo que não tinha uma confirmação e que essa só sairia às 18h. Os meninos que já comemoravam tomando uma cerveja, ficaram novamente no baixo astral da expectativa.

ESPERANDO A RESPOSTA FINAL

Liguei às 18h e 30min para o Roney e recebi a confirmação final. Entregamos as cópias dos passaportes e dólares. O Roney emitiu o recibo. Ele se comprometeu a entregar as passagens amanhã às 10h e 30min. Vamos aguardar.





domingo, 4 de outubro de 2009

Diário no encalço dos Incas - Parte II

CONTINUAÇÃO DO DIÁRIO DA VIAGEM NO ENCALÇO DOS NOSSOS ANTIGOS ANCESTRAIS SUL AMERICANOS


CHICURA

... Estamos no centro de Corumbá. Esse é um lugar meio sombrio. Estamos achando estranhos. Agora vamos para a fronteira com a Bolívia comprar passagem para Santa Cruz de la Sierra. Estamos bem hospedados no Hotel Nacional em Corumbá. Já tomamos um bom banho, fiz contato com meu amor pela internet. Acabamos de resgatar outro amigo do Marco Aurélio, irmão do André Luiz, que veio de Palmas de ônibus. O nome dele é Alessandro, vulgo Chicura. Chegou exatamente 21h e 15min de hoje. Estamos agora numa pizzaria para matar a fome avassaladora.



ENTRANDO EM PUERTO QUIJARRO




Hoje, dia 04 de janeiro de 2005, tomamos um belo café da manhã, com frutas, mel... Logo em seguida nos dirigimos para a fronteira. Quando entramos em terras bolivianas a sensação de desproteção pátria foi instantânea. Fiquei mito tocado com a pobreza, sujeição, desorganização e fragilidade humana da primeira cidade boliviana. Nosso objetivo era comprar as passagens de trem para Santa Cruz. Fomos parados por um pedágio dentro de Puerto Quijarro. O "QG" mais parecia, como disse o André Luiz, uma banca de bananas.

NA ESTAÇÃO DE TREM DE PUERTO QUIJARRO
 
Na estação de do trem muitos pobres e alguns poucos turistas, numa fila caótica em busca de passagens. Fui abordando por um pedinte alcoolizado: Barón me dá una moneda, una plata! Estávamos, ingenuamente com todos os nossos dólares no bolso. O boliviano me seguiu por alguns segundos. Militares, vestidos como exército, faziam papel de polícia naquela estação. Não animamos ficar nem mais um segundo lá, com aquele carro e dinheiro. Saímos imediatamente de volta para o Brasil. Vamos contratar o serviço de um guia para comprar e nos transportar para estação, na hora da viagem. Comprar passagem lá é uma confusão. Aqui no Brasil os cambistas querem no mínimo $ 10,00 por passagem. Estamos tensos e nervosos com tudo isso. Nossa intenção era tomar uma cerveja na piscina do hotel, relaxar um pouco e depois almoçar. Mas...
 
NÃO HÁ PASSAGEM PARA SANTA CRUZ
 
Ouçam bem essa parte dramática do relato. Estávamos certos que sairíamos daqui hoje à noite. Mas não será possível. Por que? Primeiro. Não encontramos passagem de ferrobus (ótimo trem) e nem de pluma ( o ‘trem poleiro’ ) da Bolívia. Nem mesmo do super pluma ( um intermediário).
 
O PASSAPORTE VENCIDO DO ANDRÉ LUIZ
 
Vamos ter que “morrer” em mais uma grana de hospedagem aqui em Corrubá e ir para Santa Cruz amanhã, dia 05/01/2005. Segundo, o Sr. André Luiz, vulgo Yuman Al´Mah, sequer abriu o passaporte dele antes e resolveu faze-lo agora. Qual foi a surpresa? Sim, estava vencido! Sabe o que ele fez? Sumiu. Foi na solidão buscar a solução do seu problema. Falou com o Delegado local da polícia federal, que por sua vez telefonou para o Cônsul do Brasil na Bolívia para encontrar a procurada solução. Depois de pagar taxas, preencher formulário, tirar fotos, enfim a resposta. O passaporte sairá amanhã dia 05/01/2005 às 14h. O que implicou tudo isso? Mesmo que comprássemos passagem no trem para hoje às13h não poderíamos seguir.
 
DÓLARES, BOLIVIANOS E UM PASSEIO DE BARCO PELO RIO PARAGUAI
 
Em meio a tudo isso, os três mosquiteiros, Marco Aurélio, Chicura e Saldanha, conseguem comprar bolivianos e dólares. Lá, na casa de câmbio, recebem informações sobre uma agência de turismo que resolveria nosso problema. Chegam eufóricos com um casal, cuja mulher avistamos na divisa quando lá estivemos, e pedem nossos passaportes para entregar a eles com os respectivos dólares a fim de efetuarem a compra das malfadadas passagens de trem. Assim o fizemos – imaginem só. Combinaram um ‘maravilhoso’ passeio de barco pelo rio Paraguai para que não fossem cobrados os corriqueiros $10, 00. Com isso os dois pródigos e bem intencionadas “micro empresários” comprariam a passagem para 19h de hoje, dia 04/01/2005, ou para amanhã, dia 05.
 
PSEUDO AGENTES DE TURISMO PICARETAS E BRASILEIROS
 
Quando chegamos ao porto do rio aconteceu algo inusitado. A jovem ‘senhora’ da agência que havia combinado o passeio por R$ 25 para cada pessoa, somando R$ 130,00 no total, queria confiscar o troco de R$ 20,00 que me cabia. Ela justificou que era para as despesas da gasolina da moto que utilizavam. Fiquei possesso, por ter sido novamente idiota. Se tratava de gente oportunista. Enfurecido fiz com que aquela desqualificada me devolvesse o dinheiro. Resumo da ópera. Eles não conseguiram passagem alguma nem para hoje dia 04 nem para amanhã dia 05. Só sairemos daqui, provavelmente, depois de amanhã dia 06. Acreditem se quiser.
 
PENSEI EM DESISTIR
 
Perdemos dois dias inteiros. Isso causou em mim uma crise profunda: se eu seguir não conseguirei mais chegar no dia 17/01/2005, quando inicio a semana de preparação, no Marista, o que certamente me trará graves problemas; se volto, perco dinheiro, tempo, a grande oportunidade de fazer uma bela viagem - a mais esperada da minha vida - e terei que pagar um bom ‘mico’ por causa no ‘anúncio’ generalizado da viagem. Fui para o quarto liguei para a Milka - que me aconselhou a seguir. Fiquei mais tranqüilo e seguro por ter falado com ela.
 
NOVAMENTE NA ESTAÇÃO DE PUERTO QUIJARRO TENTANDO COMPRAR PASSAGENS
 
Hoje é um novo dia, 05 de janeiro. Acordamos por volta das 08h 50 min. Estamos todos muito arrasados. Tomamos aquele mesmo belo café da manha. Sentei aqui nesse micro e me pus a digitar esse diário que venho fazendo ao longo desses dias. Tomamos a seguinte decisão. Vamos pessoalmente a Quijarro a fim de comprar a passagem para amanhã. Iremos de carro até a fronteira depois entraremos de táxi boliviano ou a pé mesmo. Só voltaremos de lá com essas passagens. Ficaremos quanto tempo for necessário na fila, pagaremos dinheiro a cambistas, o ‘caralho’, mas vamos partir amanhã dia 06 para Santa Cruz de La Sierra. Agora são 11h 10min. Estamos aguardando o tempo passar aqui no hotel, iremos almoçar e depois cumprir nosso intento.
 
TOMANDO UM TÁXI BOLIVIANO
 
Finalmente, fomos a Quijarro, novamente em busca de passagens. O André conseguiu pegar o passaporte na polícia Federal e seguiu dirigindo o carro conosco. Decidimos entrar de táxi, na cidade boliviana, e deixar carro do lado do Brasil com o André e o Alessandro.
(Comemos um peixe maravilhoso, na peixaria do Ceará, uma peixaria muito bonita, com uma piscina no meio).
Seguimos eu, Marco Aurélio e Saldanha. O Taxista era Carlos de Jesus, um boliviano que nos orientou como carimbar os passaportes, o que fizemos ao entrar na Bolívia.
 
PARA O DESESPERO DE TODOS: NÃO HÁ PASSAGENS PARA SANTA CRUZ
 
Ao chegar na segunda estação, a de Puerto Soares, qual foi a surpresa já esperada por causa da lei de Murfy. Não há passagem nem para hoje nem para amanhã. Voltamos no táxi para a estação de Quijarro, nada de passagens também. No desespero, por imaginar que só sairíamos na sexta, nós que queríamos sair na terça, e eu que tenho que voltar no dia 17 para trabalhar, encontramos, avistamos vários turista voltando de Machupicchu sujos e picados de mosquitos, carregando suas mochilas.