por Frei Marcos Sassatelli
“Pegamos o lixo da cidade e somos tratados como lixo”
(Coletor Samuel de Oliveira) No dia 29 de maio/12, os coletores de lixo da
Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), trabalhadores que merecem todo o
nosso respeito e gratidão, fizeram uma manifestação em Goiânia por melhorias nas
condições de trabalho. Após a manifestação, três coletores de lixo receberam
aviso prévio do órgão e um deles, Samuel de Oliveira, desabafou: “Reivindicamos
nossos direitos e fomos mandados embora. Pegamos o lixo da cidade e somos
tratados como lixo”. Segundo os trabalhadores, o número de caminhões para
realizar a coleta na capital não é suficiente e, além disso, eles estão
sucateados. Os responsáveis pela Comurg - diz o coletor - “falam que os
caminhões estão sendo revisados toda semana, mas isso é mentira. Muitos
trabalhadores relatam que a correia utilizada para segurar na carroceria é
improvisada com retalhos”. Sempre segundo os trabalhadores, há ainda sobrecarga
de trabalho e falta de equipamentos de proteção obrigatórios. O servidor Paulo
Roberto diz: “Estamos indignados com toda a situação. O que nós fizemos (no dia
29/05) foi apenas uma manifestação, reivindicando melhorias nas condições de
trabalho”. O motorista da Comurg, Joaquim Custódio, confirma a versão dos
trabalhadores. “O número de acidentes está acima do normal. Os coletores
continuamente cortam as mãos com cacos de vidro e batem os pés e as canelas nas
barras de ferro dos caminhões”
(http://g1.globo.com/goias/noticia/2012/05/pegamos-o-lixo-da-cidade-e-somos-tratados-como-lixo-diz-gari-em-go.html
- 30/05/12). Dia 29 de maio/12, um caminhão da Comurg se envolveu em um acidente
no Setor Novo Horizonte, causando a morte do motorista de uma caminhonete. O
veículo da Prefeitura perdeu o freio e bateu de frente com a caminhonete. O
motorista do órgão municipal e os coletores ficaram feridos, mas foram liberados
logo em seguida. Se a perícia constatar que o acidente - que provocou a morte do
motorista - foi causado pelo mau estado de conservação do caminhão, o Governo
Municipal deverá responder judicialmente Ailma Maria de Oliveira - num e-mail
enviado ao Diário da Manhã e publicado na edição do jornal do dia 8 deste mês -
diz: “As péssimas condições de trabalho na Comurg têm levado trabalhadores/as a
se manifestarem contra essa precarização. Além da falta de manutenção necessária
aos equipamentos, alta jornada de trabalho, assédio moral, falta de banheiros e
até falta de água potável para os trabalhadores/as na coleta de lixo demonstram
essa precariedade”. Sempre segundo o e-mail de Ailma Maria, a resposta da Comurg
- que já tinha dado o aviso prévio a três trabalhadores - “foi a demissão de
quase duas dezenas de manifestantes, pais de família que encabeçaram o
movimento. Pais de família que se recusaram a sair com caminhões em péssimas
condições de funcionamento. Pais de família que se recusaram a trabalhar sem
descanso. Pais de família que resolveram pedir ajuda para manter a cidade de
Goiânia limpa, arborizada e iluminada com valorização e respeito aos
trabalhadores” (Diário da Manhã, 08/06/12, OpiniãoPública, p. 01). Que falta de
respeito do Poder Público Municipal para com os nossos irmãos/ãs
trabalhadores/as! Que humilhação! A Comurg procura intimidar os trabalhadores/as
- que ganham salários miseráveis (trabalhando quase de graça) - com ameaças e
demissões injustas, para que não façam manifestações e não promovam greves. O
Poder Público Municipal (como também o Estadual e o Federal), para justificar
sua prática política autoritária e opressora, sempre criminaliza os
trabalhadores. A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), que
(segundo o e-mail de Ailma Maria) resolveu intervir e contribuir com a
organização dos trabalhadores/as da Comurg, poderia disponibilizar advogados
trabalhistas para defender judicialmente os trabalhadores/as demitidos. Enfim,
pergunto: Será que o presidente da Comurg, Luciano Henrique de Castro, antes de
dar o aviso prévio aos trabalhadores/as injustamente demitidos, teve ao menos a
preocupação de conhecer a situação em que se encontram suas famílias?
Infelizmente, nem isso acontece! As relações de trabalho no sistema capitalista
- principalmente em relação aos trabalhadores mais pobres e que merecem mais
respeito - são legal e estruturalmente cruéis, iníquas, desumanas e antiéticas.
O Governo Municipal de Goiânia, que se diz do Partido dos Trabalhadores,
decepcionou a todos/as, que acreditam numa “outra” política. O partido - que no
passado suscitou tanta esperança nos trabalhadores - tornou-se (com a exceção de
algumas poucas correntes políticas que procuram manter a fidelidade ao projeto
fundacional) o Partido dos Traidores dos trabalhadores/as. Profundamente
indignado com o tratamento dispensado aos coletores de lixo de Goiânia e demais
trabalhadores/as da Comurg, espero que o Prefeito Paulo Garcia tome as
providências necessárias para reparar tamanha injustiça. As manifestações e - em
última instância - as greves por melhorias nas condições de trabalho são
legítimas, são um direito dos trabalhadores/as e o Poder Público deve
respeitá-las. A Comurg afirma que estranhou as manifestações dos trabalhadores,
porque - segundo ela - já estava negociando com o Sindicato da categoria e a
maioria das reivindicações estava sendo atendida. Será que é verdade ou
enganação? Os trabalhadores não iriam fazer manifestações sem motivos. Em todo
caso, mesmo se for verdade, as manifestações tem o objetivo de alertar e
pressionar a Prefeitura para que atenda, com maior rapidez, às reivindicações
dos trabalhadores/as.
Termino com as palavras do Deuteronômio: “Não explore um
assalariado pobre e necessitado, seja ele um de seus irmãos ou imigrante que
vive em sua terra, em sua cidade. Pague-lhe o salário a cada dia, antes que o
sol se ponha, porque ele é pobre e sua vida depende disso” (24, 14-15).
http://www.dmdigital.com.br/novo/#!/view?e=20120615&p=20
Fr. Marcos
Sassatelli, Frade dominicano Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral
(Assunção - SP) Prof. de Filosofia da UFG aposentado Prof. na Pós-Graduação em
Direitos Humanos (Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil / PUC-GO) Vigário
Episcopal do Vicariato
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