Após decretada sua prisão José Dirceu publica uma carta ao povo brasileiro. Leia aqui
"O julgamento da
AP 470 caminha para o fim como começou: inovando - e violando - garantias
individuais asseguradas pela Constituição e pela Convenção Americana dos
Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário.
A Suprema Corte
do meu país mandou fatiar o cumprimento das penas. O julgamento começou sob o
signo da exceção e assim permanece. No início, não desmembraram o processo para
a primeira instância, violando o direito ao duplo grau de jurisdição, garantia
expressa no artigo 8 do Pacto de San Jose. Ficamos nós, os réus, com um suposto
foro privilegiado, direito que eu não tinha, o que fez do caso um julgamento de
exceção e político.
Como sempre, vou
cumprir o que manda a Constituição e a lei, mas não sem protestar e denunciar o
caráter injusto da condenação que recebi. A pior das injustiças é aquela
cometida pela própria Justiça.
É público e
consta dos autos que fui condenado sem provas. Sou inocente e fui apenado a 10
anos e 10 meses por corrupção ativa e formação de quadrilha - contra a qual
ainda cabe recurso - com base na teoria do domínio do fato, aplicada
erroneamente pelo STF.
Fui condenado
sem ato de oficio ou provas, num julgamento transmitido dia e noite pela TV,
sob pressão da grande imprensa, que durante esses oito anos me submeteu a um
pré-julgamento e linchamento.
Ignoraram-se
provas categóricas de que não houve qualquer desvio de dinheiro público. Provas
que ratificavam que os pagamentos realizados pela Visanet, via Banco do Brasil,
tiveram a devida contrapartida em serviços prestados por agência de publicidade
contratada.
Chancelou-se a
acusação de que votos foram comprados em votações parlamentares sem quaisquer
evidências concretas, estabelecendo essa interpretação para atos que guardam
relação apenas com o pagamento de despesas ou acordos eleitorais.
Durante o
julgamento inédito que paralisou a Suprema Corte por mais de um ano, a
cobertura da imprensa foi estimulada e estimulou votos e condenações, acobertou
violações dos direitos e garantais individuais, do direito de defesa e das
prerrogativas dos advogados - violadas mais uma vez na sessão de quarta-feira,
quando lhes foi negado o contraditório ao pedido da Procuradoria-Geral da
República.
Não me
condenaram pelos meus atos nos quase 50 anos de vida política dedicada
integralmente ao Brasil, à democracia e ao povo brasileiro. Nunca fui sequer
investigado em minha vida pública, como deputado, como militante social e
dirigente político, como profissional e cidadão, como ministro de Estado do
governo Lula. Minha condenação foi e é uma tentativa de julgar nossa luta e
nossa história, da esquerda e do PT, nossos governos e nosso projeto político.
Esta é a segunda
vez em minha vida que pagarei com a prisão por cumprir meu papel no combate por
uma sociedade mais justa e fraterna. Fui preso político durante a ditadura
militar. Serei preso político de uma democracia sob pressão das elites.
Mesmo nas piores
circunstâncias, minha geração sempre demonstrou que não se verga e não se
quebra. Peço aos amigos e companheiros que mantenham a serenidade e a firmeza.
O povo brasileiro segue apoiando as mudanças iniciadas pelo presidente Lula e
incrementadas pela presidente Dilma.
Ainda que preso,
permanecerei lutando para provar minha inocência e anular esta sentença
espúria, através da revisão criminal e do apelo às cortes internacionais. Não importa
que me tenham roubado a liberdade: continuarei a defender por todos os meios ao
meu alcance as grandes causas da nossa gente, ao lado do povo brasileiro,
combatendo por sua emancipação e soberania."
Preso durante ditadura brasileira e preso novamente na democracia
Rede Globo, patrocinadora e patrocinada da ditadura brasileira, participou no passado e participou ativamente desse processo que chega ao desfecho de hoje com nova prisão de Zé Dirceu, no dia em que comemoramos a Proclamação da República.

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