Existir por milésimos de segundo e conferir sentidos à vida
Respondeu um filósofo: não há certeza nenhuma para isso, ao meu ver, considerando o tempo. Parece que estar vivo e perceber o mundo ao seu redor, respondendo estímulos externos. No nosso caso humano que temos um sistema nervoso complexo. Mas na verdade, estamos mortos considerando a insignificância do tempo de nossa existência e o tempo cósmico. Todavia, seguimos vivos por alguns milésimos de segundos, com estímulos ainda, percebendo limitada e parcialmente o que chamamos de realidade. Quando consideramos o tempo, temos a certeza de que estamos mortos. O existir humano é como o da borboleta. O ínfimo presente passa a não existir e com ele o que chamamos de vida. É a nossa percepção de temporalidade e consciência que nos faz vivos por segundos. Mas a infinitudade do tempo, sob a ótica de nossa percepção nos dá a certeza de que estamos essencialmente mortos e que não somos nada. Estamos sendo durante ilusórios milésimos de segundo de nossa percepção do que é, ou seja, segurados na existência pela experiência do tempo. Viver então no nosso caso é dar um sentido a esses estímulos breves e temporários através do que chamamos inteligência. Somos os únicos que refletimos sobre a nossa percepção da realidade, ainda que de forma ilimitadamente. Entretanto, é quase vã nossa tentativa de controlar e desvendar pelo conhecimento o inefável problema do real e de nossa percepção dele, nessa fugaz experiência na linha do nosso tempo existencial. Há forças obscuras (biopsíquicas) que nos movem, sem que tenhamos clara consciência delas, e que ofuscam nossa já anunciada percepção da realidade. A morte nos cerca a cada minuto, mas aprendemos a afastá-la e até mesmo ignorá-la. Encontramos remédios e sentidos para os segundos de nossa ofuscada percepção do real, vivendo como se nunca fôssemos partir. Viver é encontrar maneiras eficientes de adiar a morte. De nos segurar nesses breves segundos. É aprimorar a percepção e a atenção. É estar sempre de olhos bem abertos e saber que estamos essencialmente mortos para o tempo cósmico, realidade que negamos às vezes em alto estilo ou mediocrimente nega ao nos brindar quando conferimos sentidos e fruimos nosso existir. Viva a vida. Mantenha a chama fumegando e cuidado com o vento forte que pode lhe devolver antes da hora para a eterna e constante morte da intemporalidade. A fé contesta a nossa nadidade. Ela consiste na esperança da existência numa outra dimensão, fora de espaço e tempo, uma realidade inefável, a plena existência, o ser imóvel e permanente, a vida plenamente lúcida, realidade que torna desnecessária a própria percepção temporal-espacial por se tratar de puro ser. Railton
Texto escrito em 27 de setembro de 2014
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