domingo, 25 de outubro de 2020

O DESAFIO ÉTICO DA COMUNICAÇÃO


 
Talvez o maior desafio ético do nosso tempo seja a comunicação, o entendimento dos canais semióticos disponíveis nas relações intersubjetivas e, consequentemente, compreender também as equivocidades que surgem aí. 
O diálogo na profundidade de sua acepção conceitual é raro, pois em geral o travestimos de dois monólogos. O que se agrava em tempos de fundamentalismo ideológico, de nivelamento vil das consciências em razão de campanhas políticas em favor da intolerância. 
Não há uma relação honestamente ética se não há disposição para o exercício da alteridade, a aceitação do outro como um outro, e o interesse de sair do nosso eu auto-centrado e ir ao mundo desconhecido do outro. Em geral, ficamos presos em nossas ilhas subjetivas lançando olhares e pré-juízos ao mundo dos outros. Aí o que nos parece estranho, torna-se mais inóspito ainda. 
Se há disposição para uma relação verdadeiramente intersubjetiva que respeite a alteridade, onde ambos estão em busca ascendente de valores nobres e delicadamente justos, é possível um profícuo e transformador diálogo. Mas às vezes nos deparamos com o intolerável, quando estranhamente "o inferno parece mesmo o outro", como pensou Sartre, ou seja, quando esse outro não aceita que existamos como decidimos existir enquanto "ser para si" que somos, construtores de nossa existência e do nosso ser único. Nos deparamos com o intolerável quando encontramos pessoas que não toleram a tolerância. E tolerância é o nível mais superficial de uma convivência em sociedade. Tolerar é admitir que o outro é diferente de mim, não me identifico com isso, mas respeito o projeto existencial dele. 
Karl Popper chegou à conclusão de que não é possível tolerar os intolerantes. Mas não tenho dúvida de que o nosso desafio primeiro é aprender a dialogar, ou seja, promover uma relação entre dois "logos", dois mundos subjetivos que são palavra, linguagem, sentidos, visões de mundo, sentimentos, hábitos, conhecimentos, valores, verdades... Dialogar é tocar um pedacinho do infinito que é o outro, respeitando sempre essa condição de que ele sempre será um universo que não pode ser totalmente desvendado, nem domesticado ou dominado. Railton
Texto escrito em 25 de outubro de 2019

Nenhum comentário:

Postar um comentário